Na segunda-feira (4), uma jovem estudante suicidou-se no campus da Universidade de Brasília, na Asa Norte. Infelizmente não foi o primeiro. Muitos outros casos já foram registrados no DF somente em 2018.
O suicídio é multideterminado e qualquer tentativa superficial de explicação incorreria em perda de sentido. Porém, identificamos que angústia, desamparo, tristeza, frustração e, de forma determinante, desesperança são sentimentos vividos por quem pensa em autoextermínio.
Intervir é possível. Ainda mais pensando o suicídio como uma crise, que é um processo subjetivo de vivência ou experimentação de situações de vida, nas quais condições internas e externas mobilizam uma pessoa e demandam novas respostas para as quais ela ainda não adquiriu, não desenvolveu ou perdeu a capacidade ou recursos capazes de dar solução à complexidade da tarefa em questão.
A perda desta semana exemplifica como os mitos em torno do suicídio prestam um desserviço no auxílio às pessoas. Em postagens, a jovem estudante expressou seu sofrimento, o que desmente o mito de que quem quer se matar apenas o faz. Ou o mito de que essas pessoas só estão querendo chamar atenção. Ambos incorretos.
Ela estava pedindo ajuda, mas alertando que não estava bem: “Você não vai se encontrar na universidade. (…)Seu vazio não vai embora. Tudo vai ser igual, vai ser o mesmo, só que em outro ambiente e com outras obrigações.(…) Não tem como fugir de você mesma”.
Além do vazio sentido, esse depoimento também chama a atenção para outro fator cada vez mais associado ao assunto: a vida acadêmica. O ambiente universitário não é o paraíso, não vai ser a solução dos problemas, não é o ponto de chegada nem o trampolim para uma vida feliz. Pode sim ser um lugar de experiências incríveis e aprendizados únicos, mas não é assim para todos.
A universidade pode ser um fator de risco, complexificado por elementos pessoais e sociais. É imperativa a reflexão: Por que a universidade tem sido um ambiente adoecedor? Que não ditos são esses que colocam o nível de exigência acadêmica em um patamar inatingível? Que lógica capitalista é essa que massacra jovens com falsas promessas de sucesso baseadas em um ideal doentio?
Lamentamos profundamente a morte da jovem e de todos que não tiveram a chance de ressignificar suas vivências. Quem se suicida muitas vezes não quer morrer, e sim acabar com o sofrimento. Uma diferença sutil mas fundamental para compreensão e ajuda nessa vivência tão solitária que antecipa o suicídio.