O pintor brasiliense Taigo Meireles está desenvolvendo o projeto Lazarus ― nome de um personagem bíblico que morre e é ressuscitado por Jesus Cristo ― com telas de imagens em que retrata o que vê em espaços destinados à restauração em museus. É ali que ele enxerga as obras desgastadas do jeito que gosta, em “corrosão e ruína”. Embora garanta que não faz “Lazarus bíblico” e que a denominação é apenas e tão-somente “um mote poético”, a tentativa ligar sua a arte à ressurreição não se completa porque a imagens em suas telas mostram uma representação do que poderia se assemelhar ao que o encanta: “corrosão e ruína”.
Taigo espera poder mostrar as telas do projeto Lazarus nalgum país da Europa, especialmente a Alemanha. A preferência é justificada por ele como a intenção de levar a países europeus a arte que de lá veio para o Brasil. Ele já tem 12 pinturas prontas e planeja conseguir na embaixada alemã em Brasília levar a mostra para os alemães. O Lazarus teve início em 2006, durou três anos, e foi retomado em 2014. No começo, chama-se Phantasmagorie ― fantasmagoria em francês. O próprio artista destacou para o Brasília Capital o seu significado: arte de fazer aparecer fantasmas, numa sala escura, com ajuda de ilusões ópticas, quimera, utopia e, em sentido figurado, falsa aparência.
Nunca conversa com Taigo, percebe-se esta tua preferência por imagens que remetem à ideia de corroído e desgastado pelo tempo. É uma espécie de espelho de tua própria existência, em meio à profunda tristeza ― uma melancolia intrínseca, como prefere dizer. Nestes estados de ânimo, costuma mergulhar-se e já sentiu várias vezes vontade de morrer, ocasiões em que convive, claro, com a depressão. Mas, ao declarar-se como alguém está cheio de vida, resume-se assim: “Sou um pessimista, mas minha atitude é otimista”. Aos 33 anos, Taigo sobrevive da arte desde os 26 anos, atividade que se manifestou nele durante a infância vivida em Ceilândia.
Obsessão
Taigo sente a arte como obsessão desde os quatro anos de idade. Uma energia que ele classifica como uma forma diferenciada de ver o mundo, situação que estende a todos os artistas. Quando termina uma pintura, fica esgotado e com “uma descrença terrível”. Obviamente, só faz um projeto como o Lazarus porque “enxergo bela neste processo”. Quanto à obsessão, verifica-a nos outros pintores por ser “pré-requisito, de acordo com precedentes históricos”.
A representação de interiores de igrejas é a expressão do que ele gosta muito, tanto que já fez uma série de pinturas denominada Altares. É meio a esta ebulição de ideias que o mestre em artes visuais pelo Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB), que já foi professor de pintura na Faculdade de Artes Dulcina de Morais, não esconde ideias polêmicas que lhe vêm à cabeça. Durante entrevista com o repórter, os dois conversaram muito sobre suicídio.
De sua geração, pode-se dizer que Taigo é o mais atuante. Ele mostra à reportagem texto escrito a seu respeito, narrando que “em 2005 com a exposição coletiva intitulada ‘Situações Brasília’, organizada pelo Conjunto Cultural da Caixa, consagrou-se como um nome relevante para a pintura brasiliense e confirmou sua presença como jovem pintor no cenário das artes, sendo convidado pelos principais galeristas para compor seus acervos. Desde então tem sido apreciado pelos principais colecionadores que transitam em Brasília, tendo obras em diversos países da América do Sul, Também na Europa, Estados Unidos e Japão”.