O 11 de setembro de 2001 é certamente um marcador fundamental para a história política do ocidente. O ataque suicida perpetrado por um grupo de militantes políticos contra as torres gêmeas do World Trade Center em Nova Iorque, moveram os olhares sobre o sistema internacional. Em um par de dias o mundo abandonou uma perspectiva triunfalista que tinha o ocidente como farol moral da humanidade para uma tensão latente entre formas de enxergar o mundo e compreender o papel da moral, da fé e das relações sociais no cotidiano de cada um de nós.
Transcorridos um par de anos do evento que trouxe o termo terrorismo para o linguajar cotidiano do cidadão comum, fica a pergunta: qual o impacto do onze de setembro sobre o Brasil? De forma inicial, é possível dizer que há um impacto tangencial dos eventos ocorridos em Nova Iorque sobre o cotidiano daqueles que se utilizam de serviços aeroportuários no Brasil e o no exterior, além da apropriação de maneira distorcida de alguns dos elementos de medo e histeria coletiva que passaram a contaminar o dia a dia das massas nos EUA e na Europa Ocidental. Mas, o fato é que não estamos no curso de ação do terrorismo internacional, e isso é um motivo de alegria, tendo em vista a incapacidade dos nossos entes políticos de construírem políticas públicas minimamente eficientes em quaisquer áreas imagináveis.
Porém, se nosso país ainda não é um alvo direto de ação de grupos terroristas internacionais, está o Brasil livre do terror? Se, por um lado, há consenso relativo acerca do fato de não sermos alvo de ações terroristas de matiz político-religiosa, é possível afirmar que o nível de medo e violência ao qual o cidadão comum brasileiro é submetido cotidianamente traz um quê de imprevisibilidade que torna a vida diária um ato de insubordinação. Partindo-se do princípio que o terrorismo consiste em atingir um objetivo político através da propagação do medo e da violência, torna-se um pouco mais fácil iniciar a caracterização do tipo de terrorismo ao qual o brasileiro é submetido cotidianamente.
Nestes termos, o terror que acua os brasileiros não se iniciou em 2001 e também está longe de encerrar-se em 2017. É possível compreender que, enquanto no caso norte-americano o terror é fruto de entes que estão fora do sistema político e à margem daquilo que se consideraria o marco regulador das relações sociais nos Estados Unidos da América, no caso brasileiro, a fonte de terror tem seu nascedouro dentro de práticas sociais corporativistas e se manifesta cotidianamente por meio de ações que envolvem dois tipos de força, a se saber: de um lado, a capacidade dos entes políticos de distorcer as instituições para que elas atendam seus interesses particulares e de outro, o fato de que o produto de ação dessas instituições – uma vez corrompidas – reforçam no cidadão comum uma postura de descrença em termos de compreensão das suas capacidades para mudar a própria realidade.
Tendo como referência, portanto, os dois elementos acima descritos, é válido fazer uma transposição do efeito das distorções institucionais sobre a vida do cidadão neste mês de setembro. O novo capítulo da novela que envolve a relação entre Joesley Batista, o Ministério Público Federal e o establishment político nacional, assumiu em passado recente sua versão mais dramática, resultando na perda do capital relacional que parecia inabalável por parte do Ministério Público.
O “mea culpa” feito pelo Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, seguido por sua tentativa de retomar controle político da situação via série de pedidos de prisão (incluídos aqui Joesley, a cúpula do PMDB no Senado e um ex-colaborador próximo do próprio Janot). Tais ações reforçam propositalmente, ou não, a percepção de que o brasileiro não vinculado a nenhuma relação de compadrio ou corporação de ofício é mero espectador diante da guerra fraticida que se desdobra nos corredores das instituições em Brasília.
Tal qual um filme de Buñuel ou um romance trágico de Dostoievsky, a cada minuto as certezas se esvanecem diante da surrealidade de um enredo marcado por reviravoltas incríveis. A diferença fundamental, porém, é que se no caso das referências ficcionais citadas tudo se resolve com uma pausa ou o fechamento de um livro, no caso do cotidiano nacional, nada parece próximo de uma resolução. Ao contrário, pavimenta-se um caminho que parece resultar na expansão da impunidade para os privilegiados e do medo para indivíduo sem redes que o acomodem em uma lógica quase feudal de realidades sociais.
Tem-se, portanto, a construção diária de que a melhor saída para o estado de coisas que se apresentam é a assunção de que o arbítrio vence e que o cotidiano passou a ser ditado por aqueles que instilam o medo. Em outras palavras, no onze de setembro cotidiano que marca a vida do brasileiro é possível afirmar que até o presente momento o medo vence com algumas malas de vantagem. Nestes termos, faz-se necessário o enfrentamento do medo por parte do cidadão e a assunção do risco de que não há mais nada a se perder diante de uma conjuntura que tenderá a ser cada dia mais hostil.
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