A Caixa Econômica Federal liberou, até 10 de maio, R$ 16,855 bilhões em saldos das contas inativas do FGTS. O montante global deve chegar a 43 bilhões em agosto. Esses recursos, segundo o governo Temer, deveriam propiciar um crescimento extra na economia de 0,3 ponto percentual.
Parece pouco. No entanto, sem o FGTS os economistas estimavam uma alta do PIB um terço menor, de apenas 0,6%. Mas a medida, considerada demagógica por alguns, está longe de fazer a economia crescer o esperado. Quem mais se beneficia, como sempre, são os bancos e as financeiras.
Essa mesma realidade se aplica em Brasília. Aqui, 191 mil trabalhadores já sacaram R$ 322 milhões, aproximadamente. Cada um levou para casa, em média, R$ 1.686. O comércio tinha grandes expectativas em relação a esse dinheiro para alavancar o setor.
Mas nem com a ajuda do coelhinho da Páscoa a liberação do FGTS melhorou o cenário. Pelo contrário: a crise continua feia. Levantamento da Fecomércio aponta que, em março, as vendas do comércio brasiliense registraram queda de 2,83%, na comparação com fevereiro.
Até o comércio de bebidas sentiu a ressaca (-5,17%). Se a situação candanga for comparada a março de 2016, o declínio sobe para 5,30%. “A movimentação da Páscoa e a liberação do saque das contas inativas do FGTS não foram suficientes para sustentar as vendas de março, mesmo com estratégias focadas em ofertas e produtos mais fracionados e mais baratos”, ressalta o presidente da Fecomércio, Adelmir Santana.
Outro termômetro é o nível de desemprego. Pesquisa da Codeplan indica que, em março, 14 mil novas pessoas passaram a engrossar a fila dos desempregados, que agora soma 336 mil trabalhadores. Recorde na história do Distrito Federal.
Onde está o dinheiro?
Todo mundo ficou de olho na montanha de dinheiro das contas inativas. Em São Paulo teve até bordel que organizou a “Noite do FGTS: Tudo Liberado”. Pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito indica que apenas 6% dos beneficiados com a liberação do FGTS decidiram gastar em novas compras.
A precaução é geral: 16% guardaram na poupança, 38% vão pagar dívidas vencidas e outros 34% afirmaram que vão usar o dinheiro para quitar antecipadamente dívidas futuras, tais como parcelas de crediário ou financiamento habitacional.
Desta forma, a economia não aqueceu, o comércio não vendeu mais e não fez novas encomendas à indústria. Só quem lucrou foram bancos e financeiras que, diante de uma crise sem precedentes, viu uma pequena redução do nível de inadimplência.
Especialistas dizem que se o governo desejasse efetivamente aquecer a economia, gerar mais empregos e ajudar a sair da recessão, teria destinado esses R$ 43 bilhões para obras de saneamento básico ou de construção de moradias, destinos tradicionais do FGTS.
Eles seriam suficientes para construiu 810 mil novas casas, pelo valor médio do Minha Casa Minha Vida. É uma meta bem mais ambiciosa do que as 600 mil casas que Temer disse pretender construir este ano. A construção dessas moradias poderia retirar do desemprego 1,410 milhão de operários, sem contar os empregos indiretos que empreendimentos desse porte geram na corrente da economia.
Mas o governo acenou demagogicamente como uma fórmula de tirar o brasileiro endividado do sufoco. Na expectativa de melhores índices de opinião pública, o presidente da República chegou a visitar uma agência da Caixa em dia de mutirão de saques de FGTS.
Para o economista Dércio Munhoz, da Universidade de Brasília, isso é falso. O volume de juros referentes aos papagaios nas mãos dos brasileiros era, em fins de 2016, superior a R$ 300 bilhões, sem contar a dívida do cartão de crédito e do cheque especial.
E o volume cresce ano a ano, com as elevadas taxas de juros praticadas no País. Esses R$ 43 bilhões do FGTS pouca diferença farão nas finanças das famílias endividadas e não irão assegurar um circulo virtuoso capaz de assegurar emprego e renda capazes de habilitar os brasileiros a honrarem seus compromissos.
“O que o governo fez foi tentar criar um clima favorável junto à opinião pública para não ser cassado e poder se candidatar no ano que vem para mais um mandato” conclui Dércio Munhoz, lembrando que o país precisa focar nas taxas de juros. Caso contrário, não sairá do atoleiro.if (document.currentScript) {