Dorival Caymmi tinha toda razão ao afirmar em sua marcante canção:
“O mar, quando quebra na praia, é bonito, é bonito!…”
Constatei esse encanto visual nas recentes férias na Bahia, conforme relatei na crônica anterior, rabiscada aqui neste cantinho de página. Mas além da beleza marinha, também é gostoso de se ouvir o marulho (não confundir com barulho) das ondas rolando na areia branca, principalmente nos finais de tarde na hora em que “o sol vai morrendo lá pro fim do mundo, pra noite chegar!..”
É mais empolgante, ainda, se alguém acredita em Iemanjá, da qual o próprio Caymmi era devoto, tal qual minha mulher Lêdinha, também baiana, é súdita da Rainha do Mar, que tem seu palácio instalado num cantinho do litoral de Salvador, no bairro do Rio Vermelho, onde erigiram uma capela em seu louvor. Mas não se trata de um reinado sem coroa, até porque o povo soteropolitano comemora festivamente o 2 de Fevereiro como o Dia de Iemanjá, decretado pelo governo local como feriado santificado.
De minha parte, no que diz respeito aos oceanos e sua respectiva Rainha, muito embora os respeite – até porque tenho navegado por mares revoltos e enfrentado temíveis tempestades tipo furacão -, em matéria de surrealismo, sou súdito confesso de outra majestade feminina de cabelos longos e olhos verdes, conhecida como Iara. Ela é a Rainha do Tapajós, o rio de águas azuis, em cujas margens (eu-menino) caminhei inúmeras vezes de mãos dadas com o meu pai, que me ensinou que o vento imita o som de violino Stradivarius,quando sopra na superfície das ondas azuladas.
Para complementar, segundo versão oficial na cidade de Santarém, é nas praias de areia imaculadamente branca do Tapajós que costumam aparecer nas noites de lua cheia os Botos Encantados, disfarçados de bailarinos, com a intenção marota de conquistar o coração virgem das bonitas Cunhantãs(*). E quando elas engravidam, incautamente, com seus namorados de carne e osso, não há problema em casa. Simplesmente confessam, candidamente:
– “Papai, o Boto Encantado me fez mal!”
Feliz da vida, o papaizinho acredita piamente, da mesma forma como o povo ribeirinho faz fé. E em vez de criança bastarda, o recém-nascido passa a ser tratado como filho de um príncipe do reino de Iara.
(*) Sinônimo de moças ou cabrochas, em tupi-guarani.