A manchete do Correio Braziliense, edição do dia 15, noticiou o falecimento de Dom Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, aos 95 anos de vida ofertada aos pobres e desamparados. Esse lutuoso fato fez com que eu voltasse à década de 1960, no Rio de Janeiro e em São Paulo, quando tive a honra de conhecer pessoalmente esse vocacionado sacerdote franciscano. Mais do que isso, ser hospedado em sua residência oficial.
Tudo começou com o interesse da Editora Vozes, de Petrópolis, em publicar em livro a série de reportagens Os 7 Pecados da Juventude Sem Amor, que estava sendo veiculada pelo Jornal do Brasil, narrativa de minha vivência entre tidos marginais, cujo introito começava assim:
“Vivi, incógnito, 40 dias no meio deles, quando tentei me comportar como um jovem que odiava o mundo. Experimentei na própria carne os seus pecados. Fumei maconha, aspirei cocaína e participei de reuniões sexuais escabrosas. Como eles não conhecem métodos convincentes de persuasão, conquistam o respeito no peito e na raça, atropelando a moralidade pública e as leis. Por essas ações, eram julgados pela sociedade como bandidos perigosos, condenados a prori, inapelavelmente. Quanto a mim, depois de conhecê-los de perto, não os considero merecedores do Inferno convencional. E, se for o caso, prefiro sentar no banco dos réus, ao lado deles”.
Como em meu texto transcrevi ipsis literis os diálogos jocosos, sob os tetos enfumaçados dos botecos de Copacabana, a editora dos frades franciscanos precisava do aval de uma autoridade eclesiástica. Na tentativa de solucionar o impasse, frei Ludovico, então presidente da Vozes, me convidou para viajar a São Paulo, a fim de ouvir a opinião do arcebispo Evaristo Arns, ocasião em que ficamos hospedados no Palácio Episcopal. E Dom Arns não só aprovou, mas também recomendou o livro a todas dioceses do País. Resultado: três edições dos 7 Pecados da JSA ficaram esgotadas, totalizando 20 mil exemplares, autêntico best-seller.
A julgar por suas ações desde que começou a usar batina, socorrendo favelados e enfrentando de peito aberto os generais da ditadura militar vigente à época, na defesa de presos torturados –, tudo leva a crer que o papa Francisco guindará Dom Evaristo Arns ao pedestal dos santos canonizados pela Igreja Católica, com firma reconhecida por Deus, no cartório celestial.
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