BC – Qual o sabor da vingança?
Celina – (Risos) … Não sou uma pessoa vingativa. Prefiro o sabor da vitória, que é muito bom. Na política se ganha e perde. Foi emblemática a vitória do deputado Joe Valle, porque queríamos plantar uma semente e deixar um legado, que era um rito da independência para a Câmara Legislativa. Mesmo na gestão do deputado Juarezão, tivemos derrubadas de vetos do governo. A eleição do Joe demonstra que, quando os 24 deputados se unem e entendem a força de seu voto, têm condição de escolher um candidato.
BC – O Joe é o perfil ideal para esse momento na relação de independência entre os Poderes?
Celina– O Joe é um cara muito competente, tem um histórico de crescimento político. Está preparado para a presidência. Ele vai conseguir dar continuidade a essa independência do Legislativo. Não como uma oposição frontal ao governo.
BC – O nome dele foi uma escolha ou a opção que restou?
Celina – Foi uma construção. Nem escolha e nem o que restou. Tínhamos outros dois candidatos no nosso grupo também, a Sandra Faraj e o Wellington Luiz. Meu nome saiu por conta da impossibilidade de reeleição. Dentro do nosso grupo dois deputados abriram mão das candidaturas para ver o nome que agregava mais votos. Houve um grande desprendimento da deputada Sandra Faraj e, principalmente, do deputado Wellington.
BC – O Rodrigo Delmasso garante que honraria o compromisso com Robério Negreiros de abrir mão da Secretaria, a disputa que gerou o racha no grupo que apoiava Agaciel. A senhora viu o nome dele na inscrição como candidato à 2ª Secretaria?
Celina – Ele estava inscrito em duas secretarias, a do Robério e a do Raimundo Ribeiro. Não sei, acho que ele iria retirar, como de fato retirou. Mas a construção por parte do Executivo foi ruim. Chegaram com muito sarcasmo dizendo que tinham 13 votos. De qualquer forma, eles perderiam corpo. Ganhariam a presidência, mas perderiam a vice e as secretarias. Aqui não vota na chapa, vota-se em cargo. Eles perderiam de qualquer forma. O que aconteceu com o Robério e com o Delmasso foi um milagre de Deus.
BC – Na quarta-feira, véspera da eleição, eu lhe questionei sobre sua expectativa para a eleição da Mesa. Sua resposta foi: “me aguarde!”. Qual era a carta na manga?
Celina – Tínhamos um segundo plano. Teríamos o vice-presidente e as secretarias, mesmo com o Agaciel ganhando a presidência. Faríamos a Mesa. Esse era o equilíbrio para não sairmos derrotados.
BC – Qual foi o papel do Tadeu Filippelli nesse processo?
Celina – O papel dele foi fundamental para nosso êxito. Todo mundo abriu mão de suas vaidades e o governador Filippelli foi muito importante nessa construção. Além de trazer o PMDB, foi atrás de vários outros votos.
BC – Foi o Alírio Neto que atraiu a Liliane Roriz para o grupo?
Celina – Acredito que foi a força do governador Filippelli. O Alírio pode até ter dado um telefonema para ela. Mas acredito que ela só votou pelo prestígio de Filippelli.
BC – Na sua opinião, hoje, o Filippelli é o mais forte candidato a governador?
Celina – Está muito cedo para se falar de governo. Acho que ele é candidato, sim, a governo. E pode ser um forte candidato.
BC – E o Joe?
Celina – Também. Nesse cenário atual, todos podem ser candidatos. Isso ficou muito claro nas nossas reuniões com o governador Filippelli. Ele foi muito correto na sua colocação: essa aliança de Mesa não significa uma aliança de governo em 2018. Até porque tinha muitos outros partidos ali, alguns, inclusive, da base do governo. Não significa uma aliança para 2018.
BC – E o Izalci?
Celina – Eu acho que seria muito ruim para o deputado Izalci se ele tentasse entrar na eleição da Câmara no ultimo momento. Primeiro porque ele não tinha todas as informações necessárias. Segundo, porque o governo está muito mal. O PSDB sempre foi visto como oposição, até porque o próprio Izalci é candidato a governador. Se ele se coloca nessa posição com o Rollemberg agora, fica parecendo que é uma aliança eventual para se ter cargos no governo até 2018. Então não dá para entender qual foi a posição naquele momento do Izalci, mas eu também não tenho as informações que ele tinha ou qual foi o convite que o Rollemberg fez a ele.
BC – É verdade que na sua divergência com o governador a senhora perdeu o Detran?
Celina – Detran nunca foi meu. No dá para se perder o que nunca se teve. Nunca tive nada no Detran. O que eu tive foi a Administração de Sobradinho no começo do governo.
BC – Como serão os desdobramentos para 2018? Quem fica com quem?
Celina – Eu estarei junto com o senador Cristovam Buarque em qualquer situação, porque nós dois estamos e somos do mesmo partido. Eu tomei uma decisão importante de sair do PDT para acompanhar o senador Cristovam. Quando se tem um líder como ele você está em um projeto apêndice do senador. A gente vai encaixar o nosso projeto dentro do dele. Já o senador Reguffe, se ele vier candidato ao governo, há uma grande possibilidade da gente apoiá-lo. Porém, ele tem afirmado e reafirmado que não é candidato a nada.
BC – Como fica aquela aliança que elegeu Rollemberg em 2014?
Celina – Eu acredito aliança prioritária que aqueles partidos fizeram com o Rollemberg, não se repetirá em 2018. Ele não terá o PSD nem o Solidariedade de novo. O PDT, com esse racha do Joe, é que não terá mesmo, porque ele fez uma opção de tentar eleger o Agaciel de qualquer forma. Assim, se você for olhar a aliança que o levou para o segundo turno, não tem nenhum partido que vai retomar em 2018.
BC – O Hélio Doyle escreveu que se não fosse o apoio do Rollemberg o Agaciel teria ganhado do Joe. A senhora acredita nisso?
Celina – Eu acredito que se ele tivesse deixado mais à vontade, teria sido uma condição diferente. Com toda a discordância que tenho do Hélio, eu acho que ele tem razão nessa leitura. O Rollemberg não tinha que ter se metido nessa disputa de dois candidatos da base.
BC – O governo retomou, nos últimos dias, a discussão sobre a LUOS, que vem se arrastando há muitos anos. Qual a sua posição sobre esse tema?
Celina – Primeiro eu acho que o governo tem que fazer o dever de casa, que é encaminhar esse projeto para a Câmara. As audiências públicas devem ser feitas porque esse rito tem que ser cumprido. Após as modificações, deve-se ouvir a população e enviar o projeto à Câmara.
BC – A senhora é favorável à instalação de empresas em áreas do Park Way e do Taquari?
Celina – Eu acho que as primeiras pessoas que devem opinar sobre isso são os moradores locais. Não adianta a gente dar uma opinião isolada, é a mesma coisa da gente falar qual o móvel você deve usar na sua casa. Eu acho que quem tem que dizer se é ou não favorável é a população, e a audiência pública é o instrumento para isso. Tem locais que a população quer, aceita que se instalem comércio para dar um suporte, mas em uma área localizada que não interfira na questão habitacional. Tem uma questão muito grande no Lago Sul, porque lá é previsto que exista regiões mistas quase que em todos os locais, mas lá é uma área quase que 100% residencial. E ali tem muito problema para o projeto que foi colocado para a comunidade. Eu já tive a oportunidade de ouvir as pessoas ali, e meu sentimento é que a população é contrária à instalação de comércio, a não ser nas áreas que já estão destinadas exclusivamente para isso. Mas, pelo que temos recebido, a população é contrária.
BC – Historicamente, a qualidade de vida em Brasília vem sendo degradada pela especulação imobiliária. Águas Claras, na última década, foi a que mais sofreu com isso. Qual a sua visão sobre a possível ampliação de Águas Claras agregando as quadras 3, 4 e 5 do Park Way e o Pistão Sul de Taguatinga?
Celina – Não tive conhecimento dessa proposta. Mas a gente tem muita preocupação com aquela área, porque o escoamento daquela população é muito engarrafado. Pensar em ampliar, sem mudar as vias urbanas, não dá. Hoje as vias já não atendem a população que vive lá. Imagina se ampliar esse potencial construtivo? Ainda mais sem ouvir a população! Seria uma loucura.
BC – Mas isto também poderia ajudar o governo a arrecadar mais dinheiro…
Celina – O governo tem perdido na grilagem porque não oferta lotes para os pobres, que acabam iludidos pelos grileiros. Acham que vão comprar aquilo e que passará a ser dele, sendo que o cara vai passar uma cessão de direitos. E, às vezes, a pessoa não tem nem a posse daquele terreno. O nosso atrito com o governo em relação à ocupação irregular das terras é na forma de se fazer. O governo insiste em não notificar as famílias e eu acho que precisa sim notificá-las, para que elas tenham o direito de tirar as coisas de dentro de casa. E que tudo ocorra com cidadania, civilidade e dignidade. A gente não tem brigado pela matéria. Achamos que o governo está certo, porque tem sim que combater as invasões. Inclusive tem um projeto de minha autoria aqui na Casa que suspende todos os benefícios sociais para o invasor de terra pública.
BC – E sobre a desocupação da Orla?
Celina – Acho que a população ganhou com isso, mas que governo errou bastante na forma. É claro que se você fizer uma orla bem bonita, as pessoas que hoje estão reclamando, vão gostar, porque vai valorizar ainda mais a casa delas. O problema da orla é que se fala em comércio ali na beira do Lago. Ali é uma área residencial. Agora, se a área for destinada ao lazer e atividades físicas, eu sou totalmente favorável. Mas não sou se houver especulação comercial naquela área, porque só as pessoas que moram ali devem opinar sobre isso. Acho que em alguns pontos da orla tem que ter um local para parar e tomar uma água de coco. Mas não na área como um todo, porque aí também vai para um projeto econômico- financeiro, deixando de ser um projeto de desobstrução para a população.
BC – O seu projeto de candidatura majoritária foi refeito?
Celina – Engraçado que eu nunca falei que seria candidata ao governo, mas as pessoas sempre falavam sobre isso. Depois a gente pegou uma pesquisa feita após a farsa da deputada Liliane Roriz e ainda tem traço forte para governo e para uma candidatura de deputada federal. Então vai depender do trabalho que a gente fizer. Mas eu tenho meu projeto número um que foi sempre ser candidata a deputada federal. Mesmo na presidência eu falei isso e está mantido com muita clareza. O PPS vai me dar legenda para tudo. Se eu quiser concorrer a governo ou a deputada federal essa vai ser uma construção que eu farei ao longo dos anos.
BC – A senhora falou em farsa. Então, desconstrua a denúncia…
Celina – Faço isso em cinco minutos. Primeiro, a deputada Liliane estava presente na sessão e eu ausente. Qual foi a farsa? Ela editou e soltou na imprensa os áudios editados, apenas com os trechos que davam a entender que eu estaria sendo conivente com qualquer irregularidade. Então quando ela falava comigo uma possível situação, no dia seguinte eu já falava para ela que eu não iria participar e nem concordar com nada de errado. Essa é a minha fala. Acho que fui a única política do Brasil que foi gravada falando que não quer participar. E tem a fala dela com o Valério Neves. Nessa conversa ela fala para ele que eu não estou sabendo de nada. Se eu não estou sabendo de nada e no próprio áudio que serve de base ela diz isso, como que eu participei disso?
BC – Mas a Justiça não entendeu assim…
Celina – Nós tivemos erros na questão jurídica de teses. Eu tive nove votos dos desembargadores. Se eu tivesse um voto a mais teria resolvido. E a gente percebe que naquele momento o Ministério Público soltou a terceira fase da operação Drácon, na véspera do meu julgamento, com aquela imagem de um assessor, que não era meu, mas o MP afirmando que eu estava obstruindo a Justiça. É muito difícil brigar contra isso. Então, houve uma orquestração para que a gente não retornasse e para que a Corte não acreditasse em nós no dia do julgamento, por mais que a gente falasse aos quatro cantos que o assessor não é nosso.
BC – Foi o deputado Chico Vigilante que a acusou?
Celina – Sim. A denúncia foi tão mentirosa que no primeiro momento o deputado disse que era uma CPU. No segundo momento ele disse que era um computador, depois ele afirmou que eram documentos. E as imagens comprovam que o assessor não saiu com nada e quem guardou as imagens para que a perícia pudesse ser feita foi o nosso gabinete. Então, imagina no dia anterior ao do meu julgamento ele solta a terceira fase da operação contando essa mentira. O meio jurídico foi abalado. Muitos desembargadores falaram que queriam preservar as investigações. Esse foi o primeiro momento, no segundo quando a gente subiu para o STJ, o STJ não tomou nem conhecimento do meu pedido porque eu ia subir com habeas-corpus. O STJ nem julgou, nem entrou no mérito. Quando subiu para o STF, o STF também não tinha tomado conhecimento. Então eu não fui julgada. Como o prazo era curto, a gente não tinha condição de fazer um recurso especial de mandar para o presidente, ele negar e aí sim subir para o STJ. A gente não teve condição jurídica de mexer nesse processo, mas eu não tive nem condição de ser julgada nem no STJ e nem no STF, porque eles não tomaram conhecimento.
BC – Qual a sensação de ser alvo de uma injustiça?
Celina – Eu acho que sou uma deputada atuante. Portanto, para mim, é muito difícil. Ainda mais se for pegar o perfil de quem me acusa, que tem milhares de processos e condenações duríssimas. Então, é muito complicado. Mas eu tenho uma estrutura forte para a política. Ainda mais eu que estava crescendo, e sabia que existia o risco de ser atacada injustamente. Desde o primeiro dia eu falei que os áudios foram editados e, quando tiveram em mãos os áudios completos, viram a minha fala dizendo que não queria participar de nada. BC – Mas acabaram surgindo ironias porque a senhora posou no plenário da Câmara com uma carta escrito “Tchau, querida” durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff…
Celina – Eu não tenho nenhuma preocupação quando pessoas fazem ironia me comparando ao ‘tchau, querida’ da Dilma, que eu fui às ruas. Até porque, quem bate pode apanhar também. E eu sempre fui uma opositora muito dura, ainda mais com a Dilma. E mesmo que eu soubesse que passaria por um problema assim, faria tudo de novo. Eu iria às ruas a favor do impeachment e levantaria o ‘tchau, querida’ do mesmo jeito, porque essa é uma visão minha. Acho que o Brasil tem que ter um novo processo político, e se você me perguntar se esse novo projeto é o do Michel Temer, eu vou te responder que não é também.
BC – Mas a senhora votou há poucos dias a favor do título de cidadã honorária de Brasília para a Dilma Rousseff…
Celina – Eu acho que a gente tem que ser grande. A Dilma já saiu da presidência, ela é uma grande mulher, teve o momento dela, foi considerada uma grande líder mundial, pode ter errado, como a gente achava que era o momento do impeachment, mas eu acho que seria muito pequeno votar contra a Dilma. Até porque, qual seria o beneficio de não votar, de não conceder o titulo? Votei no título para a mulher Dilma que ocupou a Presidência, que saiu em um processo que, para mim, foi democrático, com os argumentos políticos e jurídicos, porque nenhum processo de impeachment é feito apenas argumentos jurídicos.
BC – Qual a sua mensagem para Brasília neste Natal e para o próximo ano?
Celina – Primeiro, quero agradecer ao Brasília Capital, que tem feito uma cobertura correta dos trabalhos da Câmara. Também aproveitar para desejar a toda a população do DF um Feliz Natal e um próspero Ano Novo. Que 2017 seja melhor do que este ano. Que seja um ano de esperança. As pessoas acreditam que as mudanças acontecem sem os políticos, mas isso não é certo de se pensar, porque as mudanças passam pelos políticos. Pedir a volta da ditadura, como temos ouvido, é um absurdo. Então, que as pessoas tenham esperança na democracia, porque as grandes mudanças acontecem por meio da democracia. Se está ocorrendo toda essa avalanche, é sinal de que as instituições estão de pé, e isso faz parte do processo democrático. Por tudo isso, credito que o amanhã será melhor do que o ontem.
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