Fiquei duplamente chocado ao ler na edição do Correio Braziliense, sábado (15), sob o título restrito a uma tripa de uma coluna num cantinho de página: “Rainha da Fossa morre aos 75 anos”. Além do sentimento da perda de uma grande amiga, amizade extensiva à minha mulher Lêda Maria, achei que foi muito pouco o texto de apenas 14 linhas para falar sobre a cantora. Waleska emocionava multidões com suas interpretações e tinha nomes famosos na lista de seus fãs, que participavam da santa boemia carioca na década de 1960, entre os quais Juscelino Kubitschek, Vinicius de Moraes, Sérgio Bittencourt e até mesmo Maysa Matarazzo, de quem copiou o estilo intimista.
Capixaba nascida na cidadezinha de Afonso Cláudio, a professorinha Maria da Paz Gomes, que adotou o pseudônimo artístico de Waleska quando começou a cantar ao lado de Clara Nunes e Milton Nascimento, na tradicional Rádio Inconfidência, de Belo Horizonte, atingiu o auge como intérprete da MPB ao se transferir para o Rio de Janeiro. Em seguida, começou a chamar a atenção da mídia no Beco das Garrafas, por onde também se apresentaram grandes astros e estrelas, como Baden Powell, Wilson Simonal e Elis Regina. Depois de fazer shows em outras casas noturnas, Waleska abriu sua própria boate, no Leme, com o nome de Pub Bar, que resumia o título de Pontifícia Universidade dos Boêmios (*).
Também boêmio moderado, passei no vestibular como frequentador assíduo da referida universidade, na qual se bebia chope em taças de cristal. E acabei me tornando amigo da “reitora”, amizade que cresceu no transcurso de mais de 50 anos. Por isso, toda vez que Waleska se apresentava aqui em Brasília, costumava reservar mesas especiais para mim e minha mulher, nas proximidades do palco, a exemplo de seu inesquecível show de música e humor, ao lado do saudoso Miéli.
Atração em Portugal, Itália e Estados Unidos, com o mesmo destino de outros crooners brasileiros de fama internacional, Waleska ainda promovia shows para sobreviver, mesmo após os 70 anos de idade.
(*) No Pub, Waleska se apresentava em dupla com o então jovem violonista e cantor Josemir Barbosa, a quem considero o Frank Sinatra brasileiro, com o mesmo talento, porém sem os milhões em dinheiro. Aos 78 anos, Josemir se apresenta nas noites de terças e quartas-feiras no bar do Hotel Bristol.
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