Diante do quadro de apodrecimento das nossas Instituições políticas – Congresso Nacional e Executivo de plantão, qualquer que seja ele – vale a pena, neste fim de semana, fazermos uma reflexão sobre a desagregação moral que estamos vivenciando no nosso país. É vergonhoso ver como está sendo conduzido o destino do Brasil pela PresidentA Dilma e pelo o que de mais pernicioso que lhe cerca. Queremos pedir permissão ao genial João Ubaldo Ribeiro para transcrever na nossa Coluna o texto de sua autoria.
- Advertisement -
Precisa-se “MATÉRIA PRIMA PARA CONSTRUIR UM PAIS”
A crença geral anterior era que Collor não servia, bem como Itamar e Fernando Henrique.
Agora alguns dizem que Lula não serviu e que Dilma não serve. E o que vier depois de Lula e Dilma também não servirá para nada…
Por isso estou começando a suspeitar que o problema não está no ladrão corrupto que foi o Collor, ou no farsante que foi o Lula.
O problema está em nós.
Nós como POVO.
- Advertisement -
Nós como matéria-prima de um país.
Porque pertenço a um país onde a “Esperteza” é a moeda que sempre é valorizada, tanto ou mais que o dólar.
Um pais onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família, baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo caixa nas calçadas onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as “EMPRESAS PRIVADAS” são papelarias particulares de seus empregados desonestos, que levam para casa, como se não fosse roubo, folhas de papel, lápis, canetas, clipes e tudo o que possa ser útil para o trabalho dos filhos e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde a gente se sente o máximo porque conseguiu “puxar” a tevê a cabo do vizinho, onde a gente frauda a declaração de imposto de renda para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito.
Onde os diretores das empresas não valorizam o capital humano
Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos.
Onde o povo saqueia cargas de veículos acidentados nas estradas, dirige após consumir bebida alcoólica, pega atestado médico sem estar doente, só para faltar ao trabalho, quando viaja a serviço pela empresa, se o almoço custou 10, pede nota fiscal de 20.
Comercializa objetos doados nessas campanhas de catástrofes, compra produtos pirata com a plena consciência de que são piratas.
Quando encontra algum objeto perdido, na maioria das vezes não devolve, se falsifica tudo, tudo mesmo… só não falsifica aquilo que ainda não foi inventado.
E quer que os políticos sejam honestos.
O Brasileiro reclama do quê afinal?
Aqui os congressistas trabalham dois dias por semana para aprovar projetos e leis que só servem para afundar o que não tem, encher o saco do que tem pouco e beneficiar só a alguns.
Pertenço a um país onde as carteiras de motorista e os certificados médicos podem ser comprados, sem fazer nenhum exame.
Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no ônibus, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar o lugar.
Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o pedestre.
Um país onde fazemos um monte de coisa errada, mas nos esbaldamos em criticar nossos governantes.
Como “Matéria-Prima” de um país, temos muitas coisas boas, mas nos falta muito para sermos os homens e as mulheres de que nosso país tanto precisa.
Esses defeitos, essa “Esperteza Brasileira” congênita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos de escândalos, essa falta de qualidade humana, mais do que Collor, Itamar, Fernando Henrique ou Lula, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são brasileiros como nós, ‘ELEITOS POR NÓS”. Nascidos aqui, não em outra parte…
Entristeço-me.
Porque ainda que Dilma renunciasse hoje mesmo, o próximo presidente que a suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria-prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.
E não poderá fazer nada…
Não tenho nenhuma garantia de que alguém o possa fazer melhor. Mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Collor, nem serviu Itamar, não serviu Fernando Henrique, Lula e nem Dilma, nem servirá quem vier.
Qual a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?
Aqui faz falta outra coisa.
Enquanto essa “outra coisa” não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados…
Igualmente sacaneados!
É muito gostoso ser brasileiro.
Mas quando essa brasilinidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, aí a coisa muda…
Não esperamos acender uma vela a todos os Santos, a ver se nos mandam um Messias.
Nós temos que mudar! Um governante com os mesmos brasileiros não poderá fazer nada…
Está muito claro.
Somos nós que temos que mudar.
Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de surdo, de desentendido.
Sim, decidi procurar o responsável e estou seguro que o encontrarei quando me olhar no espelho.
(João Ubaldo Ribeiro).
Olhemos todos nós para nossos espelhos e assim saberemos que enfim encontramos os culpados por essa desagregação moral instaurada no nosso país. Nós todos os Brasileiros.