Paracatu (MG) — Com altos índices de arsênio no corpo, atestados por exames laboratoriais, alguns moradores do município mineiro de Paracatu, a cerca de 200Km de Brasília, mobilizam-se, agora, para pedir providências na Justiça sobre uma suposta contaminação em massa pela sustância extremamente tóxica. O problema é resultado das atividades de uma mineradora, distante apenas 250 metros do centro urbano da cidade. A Kinross Gold Corporation é a maior extratora de ouro a céu aberto do país. Fontes ouvidas pela reportagem afirmam que a companhia já teria sido notificada por, pelo menos, duas pessoas. A multinacional canadense, que é denunciada pelo Ministério Público Federal e Estadual por questões como a extração ilegal de prata e impactos na comunidades quilombolas, agora, começa a ser oficiada por cidadãos.
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Em meio a esse cenário, ativistas, acadêmicos e parentes de pessoas com câncer montaram uma organização não governamental pautada na defesa da população local. A recém-criada Associação Amigos de Paracatu (Ampara) acompanha alguns casos envolvendo a mineradora, mas ainda não tem sede física. O estudante de direito Hander Júnior, 23 anos, um dos membros do grupo, sustenta a necessidade da realização de novos estudos na cidade. Em 29 de abril, ele foi um dos moradores a participar de audiência pública sobre o assunto. E questionou os resultados de um estudo elaborado por um professor da Universidade Federal de Lavras (Ufla), que suscitou posterior artigo sobre os riscos do arsênio à saúde das crianças. Para tornarem públicas as conclusões do documento, que atestam baixo risco de exposição das crianças que moram próximo à mineradora, Luiz Roberto Guimarães Guilherme foi a Paracatu.
Ele afirma que a bioacessibilidade do arsênio nos solos foi baixa, o que, na prática, quer dizer que são pequenas as chances de interação da substância tóxica com os organismos vivos. Ele garantiu que o risco da poeira liberada pela mineradora é ainda menor à população. “Os teores totais são cerca de 10 vezes mais baixos que nas amostras de solos e sedimentos”, ponderou Guilherme, em e-mail enviado à reportagem.
Mas é exatamente a poeira citada pelo especialista o motivo da discórdia com os moradores. “O estudo analisou sedimentos em uma situação hipotética de uma criança ingerir terra ou beber água da mineração. Ele não fala em poeira. Então, creio que ainda sejam necessários mais aprofundamentos sobre o tema”, sugeriu Hander. O médico do Departamento de Oncologia do Hospital da Universidade de Berna, na Suíça, Sergio Ulhoa Dani, também contesta os resultados, amparado em análises de 2011 de professores da Ufla, inclusive de Guilherme. Dani escreveu um artigo um ano após a publicação, traçando um prognóstico assustador para Paracatu.
Por meio da Assessoria de Imprensa, a Kinross alegou “ser lamentável que um pequeno grupo sem respaldo científico e fazendo alegações vagas, sem qualquer prova, possa prejudicar a reputação de Paracatu, causando preocupação entre os cidadãos”.
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