Com exceção da paixão pelo futebol, em quase tudo ele se assemelhava ao Papa Francisco, pela vocação clerical de amar e defender os pobres, evidenciada em palavras e atos. Assim era dom Helder Câmara, nascido em Fortaleza (Ceará), em 1909, ordenado bispo no Rio de Janeiro, aos 43 anos de idade. Já a essa altura, começava a aparecer na mídia por concretizar obras sociais, a exemplo da Cruzada São Sebastião, que proporcionaria moradias aos favelados; e do Banco da Providência, para atender pessoas que viviam em condições miseráveis.
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Em março de 1964, foi designado Arcebispo de Olinda e Recife, em Pernambuco, coincidindo com o mês em que seria instalado o regime de exceção no Brasil e quando passaria a atuar junto aos agricultores nordestinos, intensificando a necessidade de uma reforma agrária de fato e de direito, por sinal, uma das reivindicações das Ligas Camponesas, que foram varridas do mapa com prisões e mortes, logo após a concretização do golpe militar. Desde então, o religioso transformou-se numa trincheira humana contra a ditadura.
Não obstante sua fragilidade física, Dom Helder não se atemorizou, utilizando os meios de comunicação daqui e do exterior, para denunciar as injustiças. Sem argumentos para prender o único brasileiro indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz, os ditadores optaram por cassar a sua palavra na implantação do AI-5, editado em 1967, além de recorrer a outras armas, como a convocação do famoso jornalista Nelson Rodrigues, que passaria a atacar, diariamente, o sacerdote em sua coluna A Vida Como Ela É, no jornal carioca Última Hora, taxando-o com o rótulo de Arcebispo Vermelho.
Mas foi tudo em vão, porque Dom Helder só abdicaria de seu cargo em 2 de abril de 1985, três meses depois da queda do regime militar, continuando a residir, sem qualquer luxo, nos fundos da Igreja das Fronteiras, no Recife, onde vivia desde 1968 e faleceria em agosto de 1999, aos 90 anos.
Com a anuência do Vaticano, foi iniciado na última semana o processo de beatificação e canonização do arcebispo de Olinda e Recife. Na verdade, trata-se de uma mera formalidade, porque Dom Helder, o sósia do Papa Francisco, já exercera a Santidade, em sua luminosa passagem por este planetóide mal iluminado.
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