Com irritação no globo ocular e a expectativa (medo) de uma cirurgia de catarata, me descuidei e acabei caindo na armadilha da reflexão que reboca dúvidas existenciais: por que uma pessoa que a gente ama (como a iluminada professora de piano de minha netinha Bárbara) vai embora para sempre no leito de um hospital? Para atenuar minha tristeza, de repente a saudosa figura do poeta e amigo chamado Newton Rossi (*), vem de longe em meu socorro, justificando o aforismo de que a poesia é necessária, quando releio os dois primeiros versos de seu sugestivo poema:
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“Onde está Deus?, pergunta o cientista. / Ninguém o viu jamais. Quem ele é? / Responde, às pressas, o materialista: Deus é somente uma invenção da fé. / Mas o poeta dirá, com a segurança / De quem tem certeza / Eu vejo Deus no riso da criança / No Céu, no Mar, na Luz da Natureza!”
Ao perceber a minha perplexidade espiritual, minha filha Fernanda, que é espírita praticante, sugeriu:
– Papai, faça uma oração pela alma da professora Rosária!
Mas orar como, se já perdi a fé?
Aí, mais uma vez, NR entra em cena, para dissipar meu sofrimento, ao relembrar outra poesia (*) de sua autoria, que marcou época:
“Senhor!
Que estas palavras, que não dizem tudo, / Possam chegar um dia aos teus ouvidos / Chegar como quem chega sem bater à porta… / Sem roupa nova, sem nenhum requinte / E sem mesmo saber como chegou. / Que o ódio seja extraído pela paz / Que haja compreensão e tolerância / Que os povos se entendam como irmãos! / Que no coração da criatura humana, / Pleno de equilíbrio e de harmonia, / Viceje a planta da fraternidade!
Escuta-as, Senhor!
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São palavras que não foram decoradas / Não foram feitas apenas para os lábios / Mensagem de pureza, que mais é um clamor / Dos que não sabem dizer, dos que não podem falar / Dos que só sabem sofrer, dos que só sabem sentir / Dos que só sabem esperar… / Esta é a oração dos que não sabem rezar!”
(*) O poema “Oração para os que não sabem rezar” foi traduzido para 15 idiomas, fazendo sucesso até mesmo na China comunista, o país mais populoso do mundo, com 1,6 bilhão de habitantes, presumivelmente de ateus, sem Deus e que ainda não aprenderam orar.