O que em outros países significa apenas uma narrativa de eventos da História, sempre relatados em sequência cronológica, tipo comentário jornalístico sobre determinado assunto, no Brasil vale como texto livre, liberto de amarras e, em alguns casos, até bem próximos da poesia, caracterizando-se por isso mesmo como Literatura. Eis porque não é fácil plasmá-las numa folha de papel em branco, seja manuscritamente ou catando milho no teclado de um computador. Dou um exemplo insofismável: por pura inspiração, rabisco-as desde menino, quando aprendi com meu pai a metrificar sonetos. Porém, confesso sem falsa modéstia: ainda me considero um aprendiz teimoso, na difícil arte de escrever crônicas.
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A propósito, muita gente pensa que a modalidade foi divulgada pela popularidade e talento do capixaba Rubem Braga. Ledo engano: esse logotipo literário era também marca de Machado de Assis, que fundou a Academia Brasileira de Letras no Rio de Janeiro, em 20 de julho de 1897, em cujo casarão distintos associados, trajados com ridículos fardões, acreditam de mentirinha que são imortais. Nos últimos anos, surgiram na imprensa inúmeros autores do gênero, a maioria hoje na lista dos saudosos, como o mineiro Fernando Sabino e o recifense Antônio Maria, a quem conheci na Redação da UH carioca e que para mim continua sendo o melhor.
E até há pouco tempo, acreditava que estava no bloco do Eu Sozinho, já que nenhum crítico literário havia citado o escritor pernambucano no rol dos que merecem ser lembrados. Felizmente, li recentemente que o gaúcho Fernando Veríssimo, além de ser botafoguense (haja coração e fé no futuro), também considerava Antônio Maria como o seu cronista preferido.
Por falar no assunto, recebi na última semana um enorme envelope, recheado com nada menos de três textos, do escritor maranhense Innocêncio Viégas, que na minha opinião é um cronista vocacionado, apesar de não ser tão conhecido do grande público brasiliense de leitores, muito embora já tenha um livro publicado. E ele quase me matou de tanto rir (que faz tanto bem ao fígado), ao ler a crônica do “Não Pode”, que merece ser publicada em qualquer Antologia, até porque caracteriza as exageradas proibições a nosotros,indefesos idosos.
Só me resta dizer: Obrigado, querido Viégas, pelo lindo presente deste Ano Novo de 2015, que nasceu e já começou a engatinhar!