Mesmo com a diminuição da taxa, as regiões citadas acima ainda aparecem no topo do mapeamento da secretaria, com 74, 35 e 32 assassinatos registrados de janeiro até julho, respectivamente. Os casos de homicídios das três cidades – se somados – representam aproximadamente 40% do total de ocorrências dessa modalidade neste primeiro semestre do ano, que foi de 354 registros.
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Os crimes, geralmente, estão ligados com tráfico de drogas e latrocínio – roubo seguido de morte. Mas houve situações em que a motivação foi apenas banal. “Eu já vi uma amiga minha ser morta pelo namorado por ciúme”, conta a moradora do P Sul Janaína Couto, 18 anos, estudante. Ela faz uma queixa: “Aqui não tem policiamento. É raro se ver uma viatura nas ruas residenciais”.
A equipe do JBr.percorreu as cidades de Ceilândia e Samambaia. Na visita, conversou com moradores e comerciantes sobre as últimas estatísticas reveladas pela secretaria, em que apontam uma redução de 0,8% (354 contra 357 de 2013) no número de assassinatos.
A maioria afirmou à reportagem desconhecer na prática os efeitos dos números e os resultados alcançados pelas autoridades. Quando perguntados sobre a sensação de segurança em Ceilândia e Samambaia, eles afirmaram que não se sentem seguros. A maior queixa apresentada à equipe tem relação com a falta de policiamento ostensivo.
Ceilândia
A primeira cidade percorrida foi Ceilândia. Em janeiro, houve dois assassinatos numa mesma noite. Os crimes ocorreram no setor Sol Nascente e no P Sul. Um homem de 66 anos foi baleado na cabeça dentro do carro na chácara 127 da primeira localidade. Ele chegou a ser socorrido, mas morreu no Hospital de Base de Brasília.
Naquele mesmo dia, um homem de 20 anos foi encontrado com marcas de tiros no conjunto Z da QNP 28/32. O local onde o corpo estava é conhecido como “Lixão dos Carroceiros”. Os dois crimes são investigados pela 23ª DP.
Abandono é maior durante a noite
O condomínio Sol Nascente – oficialmente chamado de Área de Regularização de Interesse Social (Aris) Sol Nascente – onde as ruas têm iluminação pública e um histórico considerável de violência, parece abandonado à noite. O movimento de pessoas, que é intenso durante o dia, diminui sensivelmente ao escurecer. Nesse período, é comum ver com maior frequência grupos de jovens em esquinas e embaixo de marquises de lojas fechadas.
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Entre as poucas pessoas que caminhavam na única avenida asfaltada do Sol Nascente – que fica na entrada do setor -, estavam as amigas Francisca das Chagas, 21 anos, e Olívia da Silva, 37. Elas explicaram que não costumam sair à noite porque temem a violência do lugar. Mas foram à casa da irmã de Francisca naquele dia apanhar um remédio para o filho desta de três anos. “Não saio depois que escurece. É muito perigoso. A polícia não circula aqui”, afirma Francisca.
Tráfico
De acordo com as duas mulheres, os assassinatos registrados ali tiveram relação com o tráfico de drogas. O crime é a principal causa das mortes no Sol Nascente. “É um problema que ninguém acaba”, lamentou Olívia, que também estava acompanhada das duas filhas na ocasião. Durante as cerca de duas horas que a reportagem passou no setor, não foi visto nenhum carro da Polícia Militar. Havia somente um posto comunitário, que estava com a luz apagada e as portas fechadas.
Longe dali, mas no centro de Ceilândia, duas situações chamaram atenção. Em uma mesma avenida comercial, uma loja de bebidas, na QNN 1, já havia sido assaltada diversas vezes, enquanto uma lanchonete, situada no outro lado das duas pistas que divide os blocos comerciais, na QNN 2, não havia registrado nenhum caso de violência neste ano.
Apoio ostensivo
Para o dono da distribuidora de bebidas, que pediu para não ser identificado, a segurança do vizinho conta com o apoio ostensivo da Polícia Militar. “O proprietário é ex-policial. Por isso, todos os dias, tem uma viatura na frente”, diz.
Grades por todos os lados
A reclamação da falta de policiamento é compartilhada por muitos moradores de outros pontos de Ceilândia. É o caso de Ana Regina Vargas, 45 anos, que trocou o Rio de Janeiro pelo P Norte devido a violência no estado fluminense. No entanto, ela garante que tem certo reeio de ter feito a escolha errada. “Eu já vi uma mulher sendo assaltada e quase morta porque se recusou a entregar a bolsa. A gente liga para o 190 (número do telefone de emergência da polícia) e raramente alguém atende”, queixa-se.