A Alemanha nunca foi tão Brasil. Nenhuma seleção curtiu tanto uma Copa. Esqueça o esteriótipo da frieza. Eles nunca foram assim por aqui. Encantaram. Dentro e fora do campo. Com simpatia em Santa Cruz Cabrália, na Bahia, no Rio de Janeiro e por onde passaram. Uma geração formada em 2006, em uma Copa disputada em casa. E que viria a colher seu merecido fruto oito anos depois. Porque não, também em casa? Foi assim que eles se sentiram no Maracanã. O apoio dos brasileiros veio pela rivalidade com a Argentina. Mas também como forma de agradecimento. Tão sincero que, mesmo após uma goleada dada por eles na Seleção Brasileira, sequer foi colocada na balança. Uma geração formada para vencer. Neste domingo, por 1 a 0, sofrido, com o gol saindo aos sete minutos do segundo tempo da prorrogação. O gol do título. Do tetra. Assim como o do Brasil e da Itália, após 24 anos de espera.
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Aos argentinos, ainda bicampeões, a fila vai aumentar para 32 anos. A próxima chance será na Rússia, em 2018, quando dificilmente os hermanos desejarão cruzar com os alemães novamente. Já foram cinco derrotas em jogos decisivos, duas derrotas em finais de Copa do Mundo e mais três encontros nadas agradáveis desde 2006.
A postura das duas equipes no primeiro tempo foi como se imaginava, com os alemães tendo mais posse de bola e paciência para trocar passes, e os argentinos fechados e buscando as saídas rápidas para o contra-ataque. O que talvez não fizesse parte do script seria o fato da estratégia sul-americana se mostrar tão superior. Durante a primeira metade da final, o tricampeonato sul-americano esteve bem mais perto do que o tetra europeu.
Apesar dos 63% de posse de bola, a Alemanha encontrava enorme dificuldade para penetrar na antes contestada defesa alviceleste, que encontrava em Messi, a válvula de escape. E no caso, de uma Ferrari, tamanha a qualidade do craque argentino. Logo aos oito minutos, o camisa 10, em arrancada individual, passou por Hummels e cruzou para trás. Schweinsteiger chegou antes de Higuain.
O lance serviu para despertar de vez a torcida alviceleste, que passou a cantar mais alto do que os alemães, reforçados pelos brasileiros, que dois minutos antes gritavam olé a cada troca de passe germânico.
Além de melhor em campo, a Argentina ainda contou com um presente daqueles que não se pode perder. Ainda mais em uma final de Copa do Mundo. Aos 20 minutos, Kroos recuou mal de cabeça e deixou Higuain livre, cara a cara com Neuer. O atacante da Napoli, no entanto, fez pior. Mandou para fora fazendo Mascherano e toda a Argentina colocar as mãos na cabeça.
Até nos lances em impedimento, os da Argentina foram melhores. Enquanto Klose, a frente da defesa, lamentou não ter alcançado um cruzamento da direita de Lahm, a Argentina foi as redes. Após invertida de bola de Messi, Lavezzi cruzou na medida para Higuain vencer Neuer. Mas o árbitro italiano Nicola Rizzoli, bastante contestado pelos germânicos, acertou em anular o gol.
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Sentindo a situação difícil, o técnico Joachim Löw mudou a sua forma de atuar, colocando Schürrle no lugar de Kramer, surpresa na escalação inicial e que deixou o campo machucado. Enfim, aos 46, a Alemanha, assustou Romero. Após escanteio, Schürrle cabeceou na trave.
Sentindo sua equipe superior, o técnico argentino sacou Lavezzi e pôs em campo Agüero, que chegou a ser dado como fora do Mundial devido a uma lesão muscular. A ordem era clara. Buscar o tricampeonato na base do ataque. E bastou um minuto para, mais uma vez, o grito de gol ficar preso na garganta dos hermanos. E logo com Messi, que recebeu, entrou na área e chutou cruzado, rente a trave esquerda de Neuer. A Argentina também passou a ficar um pouco mais com a bola no pé, diminuindo a única vantagem do rival na partida.
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Após o lance, a cautela e o receio de erros de ambas as partes, típicas de uma final como essa, apareceram. Com as duas equipes errando mais que acertando e alguns lances mais ríspidos. As chances de gol e de fazer história diminuíram. As torcidas nas cadeiras também reduziram o ritmo dos cantos. Era o som da ansiedade e do nervosísmo. Aos 25, após boa troca de passes, Schürrle entrou frente a frente com Romero, mas não dominou. A final da Copa do Mundo no Brasil entrava em seu momento crucial. Nos minutos cruciais.
Messi chegou a levantar a hinchada argentina em dois lances individuais, a Alemanha também procurou o gol, com Kroos e Götze, mas uma Copa como a do Brasil merecia mais alguns minutos antes da despedida. Problema para argentinos e alemães resolverem na prorrogação. Pela terceira vez consecutiva, era preciso mais do que noventa minutos para definir o campeão.
Prorrogação
Bastaram apenas 30 segundos para a Alemanha ter a sua melhor chance na decisão. Após boa jogada de Kroos, Schürrle mandou uma bomba, mas Romero bem colocado defendeu firme, no reflexo. Ninguém de branco aproveitou o rebote. Mas assim como no tempo normal, foi da Argentina a melhor chance também na etapa inicial da prorrogação.
Após falha da defesa alemã, Palácio matou no peito, mas adiantou muito a bola e frente a frente com Neuer errou ao tentar encobrir o bom goleiro alemão, despediçando um lance que não se tem o direito de perder em uma final de Copa do Mundo. O segundo da Argentina no jogo. Não se sai ileso disso.
No segundo tempo, aos sete minutos, a estrela que acompanhou a Argentina ao longo de uma campanha sofrida se apagava. Na mesma hora em que brilhava na Alemanha. A estrela do tetracampeonato. A estrela de Mario Götze. Um nome, a partir deste 13 de junho, na história. Uma bola alçada na área por Schürrle, uma matada no peito, um voleio, sem deixar a bola cair. Um golaço de campeão. O 18 da Alemanha, o melhor ataque da Copa. De uma geração feita para vencer. A primeira seleção europeia a conquistar um Mundial nas Américas. Como o Brasil, havia feito, sendo o primeiro sul-americano a vencer na Europa, em 1958. A Alemanha nunca foi tão Brasil.