Pouco mais de um mês depois de ser citada como “grande pensadora contemporânea” em uma prova de filosofia, a funkeira Valesca Popozuda visitou o Centro de Ensino Médio (CEM) 3, de Taguatinga, para conhecer alunos e professores e retribuir a lembrança, que considerou “uma honra”. A atribuição, dada em uma questão para estudantes do 2º e do 3º ano, ganhou as redes sociais e gerou um debate sobre preconceito cultural e de gênero, e o papel da mídia nesse processo. Ontem, ela chegou à instituição, pela manhã, conversou com a comunidade no pátio central da escola e ainda publicou selfies com a turma em seu perfil em uma rede social.
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Valesca chegou por volta das 10h30, em um carro preto, e entrou pelos portões dos fundos do CEM 3. Somente alguns alunos do 3º ano haviam sido comunicados antecipadamente sobre a visita ilustre. “Ela chegou por trás para não chamar a atenção. Quando soubemos que a Valesca Popozuda estava lá, todo mundo se empolgou. Ninguém acreditava que ela foi até lá por causa de uma questão da prova”, destaca a estudante Brenna Sanna, 18 anos. Com todas as possibilidades de aquele ser um momento de autopromoção, a cantora ensinou aos quase 800 adolescentes de 15 a 22 anos uma lição importante: a humildade. “Foi uma experiência muito gratificante. Ela conversou conosco, agradeceu pela recepção que teve na escola e pelo título que recebeu. A humildade dela foi o que mais ficou para nós”, destaca Brenna.
A artista foi homenageada pelos alunos, que cantaram o hit Beijinho no ombro para ela. Durante as duas horas em que esteve no colégio, conversou com todos, visitou a biblioteca e concedeu entrevista a um programa de televisão. Por volta das 13h, Valesca foi embora. A repercussão que a pergunta da prova de filosofia trouxe jogou luz para dois focos importantes: o funk como produto cultural e o fato de ele ser produzido por uma cantora. “Ela (a Valesca) se identifica com as mulheres por sofrer muita discriminação ao cantar funk e ser mulher em um meio dominado por homens”, reflete Brenna.
Para a estudante, a lição do episódio é de respeito. “Quem não gosta de funk tem que saber conviver, pois ele é uma cultura marcante na sociedade. Se ela é vulgar ou não, não importa, a gente tem que respeitá-la”, defende. A empatia entre alunos e funkeira foi tal que ela prometeu voltar para a formatura das turmas do 3º ano. “Foi muito bacana. Ela disse que vai fazer show para nós. Acho que todo mundo vai gostar, mesmo quem não gosta de funk. A recepção vai ser como a de hoje (ontem)”, acredita o aluno do 3º ano Bruno Humberto Lobo de Oliveira, 16 anos.
Experiência
A ida de Valesca ao Centro de Ensino 3 reforça a discussão feita em sala de aula, de acordo com o professor de filosofia Antônio Kubitschek, mentor da polêmica. “Valeu a pena o debate, que está na sociedade, sobre o pensar, quem pode produzir pensamento. Ele continua a ocorrer, porque a gente dá prosseguimento ao conteúdo formal sobre moral. Hoje, estamos trabalhando com a moral para Nietzche”, explica. À época, o docente justificou a atribuição de “grande pensadora contemporânea” a Valesca a partir da ideia da filosofia francesa antiga, na qual qualquer indivíduo que cria um conceito pode ser considerado filósofo ou pensador. “Nesse sentido, Valesca é uma pensadora e só gera tanta repercussão por ser mulher. Se fosse o Mister Catra, não geraria tanta polêmica”, opinou.