Se por um instante, Deus esquecesse que sou uma marioneta de trapos e me presenteasse com mais um pedaço de vida, eu aproveitaria esse tempo o mais que pudesse.
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Possivelmente, não diria tudo o que penso, mas definitivamente pensaria tudo o que digo.
Daria valor às coisas, não por aquilo que valem, mas pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais, porque entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz.
Andaria quando os demais se detivessem, acordaria quando os demais dormissem. Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, deitava-me ao sol, deixando a descoberto não somente o meu corpo, mas também a minha alma.
Aos homens eu provaria que equivocados estão, ao pensar que deixam de se enamorar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se enamorar.
A um menino eu daria-lhe asas e apenas lhe pediria que aprendesse a voar.
Aos velhos ensinaria que a morte não chega com o fim da vida, mas com o esquecimento.
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PS – Claro, que os parágrafos acima não são de minha autoria, modesto escriba de croniquetas (eis porque os coloquei em grifo), até porque não teria a beleza do texto e a sabedoria do conteúdo das mensagens. São palavras redigidas, manuscritamente, por um dos maiores escritores da América Latina: Gabriel Garcia Márquez, reverenciado nos quatro cantos deste planetóide, até mesmo na China.
Entre as honrarias, recebeu inúmeros prêmios, entre os quais o Nobel de Literatura de 1982. Atrevi-me a transcrever este fragmento de obra-prima, aqui neste cantinho de página, em homenagem aos leitores deste querido hebdomadário. Isto porque trata-se de matéria inédita, que não consta em qualquer dos muitos livros do genial autor colombiano, incluindo Crônica de uma Morte Anunciada.
A propósito, sua morte foi anunciada (erroneamente), em junho de 2013. E para desmenti-la, o “morto” mandou um recado aos amigos mais íntimos, de cujo documento pincei as palavras mágicas, como se fosse uma despedida de alguém a caminho da Eternidade.
No dia 18 deste abril de 2014, foi anunciada nas manchetes dos jornais de todo mundo a morte de Gabriel Garcia Márquez, pela segunda vez, mas desta feita era verdade, infelizmente. Ele falecera na véspera, na manhã de quinta-feira, 17, num hospital da Cidade do México, aos 87 anos de vida produtiva, como escritor e jornalista, profissão que amava.