Eliana Pedrosa é uma mulher de fibra. Ex-secretária de Desenvolvimento Social do governo Arruda, ela dirigiu programas de grande visibilidade e de aproximação com os segmentos mais carentes da população do DF. E quer chegar à cadeira mais importante do Palácio do Buriti. Tem articulações com PSDB e o DEM, mas não fecha as portas para as conversas com o PSB, o PDT e o Solidariedade. Nesta entrevista, ela reconhece o peso da aliaça Roriz-Arruda e descarta qualquer possibilidade de aproximação com o PT. “A população quer mudança”, acredita.
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BC – A senhora trabalha há três anos sua candidatura ao Buriti. Como está essa caminhada?
Eliana – No congresso realizado pelo meu partido, o PPS, em novembro, aqui no Distrito Federal, tiramos uma resolução de que teríamos presença em uma chapa majoritária. A gente vem trabalhando nisso com muitas conversas, todas em andamento. Há uma conversa bem adiantada com o PSDB e com o DEM, em que não temos a definição de quem estará na cabeça de chapa. O que nós estamos construindo é uma aproximação desses partidos buscando, primeiro, uma identificação das nossas propostas para um governo futuro, um plano de governo. À medida que essas propostas se encaixarem, estaremos, cada vez mais, preparados para costurar essa aliança definitivamente.
BC – Pelo que temos acompanhado, o PSDB trabalha para ficar com a cabeça dessa chapa…
Eliana – O PSDB ainda não tirou o nome que vai compor essa possível chapa majoritária. O importante é que tem conversas em andamento, como também nós temos com o PSB, PDT, Partido da Solidariedade e vários partidos. O importante é procurarmos aqueles partidos que buscam uma mudança no Distrito Federal. E, dentre estes, ver como é que a gente alinha nosso pensamento e nossas propostas para esse futuro, vendo o que é possível nessa composição. Dentro dessa proposta de mudança estamos procurando nossos parceiros, sem deixar de considerar o ponto que, para nós, é fundamental: o que nós queremos dentro desse governo? Qual é o nosso programa? Qual a nossa identidade programática para esse processo de mudança?
BC – Qual seria a sua prioridade?
Eliana – Educação, Segurança e Saúde têm que ser prioridade em qualquer governo. Se você pegar hoje a Saúde e Segurança, a percepção da população do DF e as queixas da população são muito contundentes. Não tem como desconsiderar isso. Educação tem que ser prioridade, porque se você tem uma escola integral, obviamente está ajudando muito a Segurança Pública. Essas crianças dentro da escola sendo atendidas com um programa de saúde, com um programa odontológico, estão ajudando muito a Saúde. Então, educação tem que ser prioridade mesmo, porque, se a educação for uma prioridade, em um longo prazo, nós teremos muito mais segurança e saúde. Mas este é o grande problema da política atual. Nossos gestores pensam apenas no curtíssimo prazo. E política, para dar certo, para voltar a motivar as pessoas, tem que ser com ações de médio e longo prazo.
BC – Sua experiência no Executivo foi na área social. Seus projetos foram de curto ou de longo prazo?
Eliana – Nós plantamos uma experiência que se pretendia de longo prazo. Houve uma interrupção, porque o governo acabou precocemente e não deu para que fizéssemos tudo que g
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ostaríamos de fazer. Tínhamos um projeto, que estava em gestação, chamado “Jovem do Futuro”, no qual eu depositava muita esperança. Nele, os jovens que eram chamados a participar, principalmente aqueles cujas famílias estavam em programas sociais, os tutores perguntava o que você cada jovem gostaria de ser quando crescesse. Se ele responde seu astronauta, o tutor explicaria que, para isso, ele precisaria estudar inglês, pois não tem como ser um astronauta sem falar inglês. Para você ser um astronauta, tem que ter um bom condicionamento físico. Portanto, tem que ter um programa de educação física e alimentar muito bom. Astronauta, tem que ter formação superior. Quais são as profissões que nos recrutamentos de astronautas mais aparecem? Medicina, Engenharia, Astronomia… O entrevistador captava aquilo que era o desejo, a projeção dele para um sonho futuro e começava a mostrar o que ele precisaria fazer. Diante disso, a Secretaria teria a missão de dar preferência para matriculá-lo em um Centro de Línguas do governo ou conseguir uma bolsa numa instituição privada. Dentro da Secretaria existem professores de Educação Física. Então, cria-se um programa diferenciado para esse jovem no contra-turno da escola. Ainda tinha mais um assunto: todo dia ele era orientado a escrever em um caderno qual era o progresso que tinha feito em direção ao sonho dele. Aquilo terminava condicionando aquele jovem a refletir sobre tudo que ele estava fazendo e se ele estava, realmente, evoluindo ao objetivo dele. Esse era um processo que não deveria ter uma interrupção, era pra ser uma política de Estado, e não um programa. A primeira mazela no serviço público é a descontinuidade. Quando muda o governo termina descontinuando todos os programas, independente de eles serem bons ou ruins. Cada um quer implantar o seu.
BC – A senhora deu continuidade aos programas que encontrou em andamento na Secretaria de Desenvolvimento Social no governo Arruda?
Eliana – Quando cheguei à Secretaria, não interrompi nenhum programa. Procuramos aperfeiçoar todos eles: o Restaurante Comunitário, que foi feito pelo Roriz; o programa da Bolsa Social, entre outros. Não interrompemos nenhum.
BC – Muitas vezes não há integração nem na mesma gestão…
Eliana – A outra grande mazela do serviço público é que cada órgão funciona de forma estanque. As Secretarias de Cultura e de Educação, por exemplo, poderiam se unir para atender ao enorme contingente de estudantes da rede oficial. A primeira preocupação da Secretaria de Cultura seria ter uma linha de atuação voltada para levar cultura para dentro das escolas, dando a oportunidade aos estudantes de, efetivamente, serem motivados na parte criativa e na construção do seu cabedal de informações. A Secretaria de Esportes deveria ter uma parcela do seu orçamento e da sua estrutura destinada a reforçar os jogos escolares, porque é por da cultura e do esporte que se atinge essa parte lúdica e tem a possibilidade de reter esse menino na escola. Vivemos em um modelo de escola do século XVI. Sem nenhuma inovação. Até a forma como os meninos sentam na sala é igual e isso está se esgotando. Num projeto de longo prazo, esse menino, à medida que fosse passando de série, só lá na frente a sociedade iria perceber que está dando resultados. E esses resultados motivariam vários meninos a fazer parte do processo.
BC – Então, como possível integrante de uma chapa majoritária, a senhora incluiria no programa de governo a retomada desses projetos que foram interrompidos?
Eliana – Incluiria os projetos que foram interrompidos e outros que nem começaram.
BC – Planos de governo apresentados em campanhas eleitorais nem sempre são cumpridos…
Eliana – E esta é outra mazela que têm os governos: planejam pouco, vão para ação e ficam remendando. Temos que ter o hábito de planejar um pouco mais. Acho que isso é a importância da discussão da qual estamos participando junto com esses partidos. Estamos exercendo a nossa capacidade de colocar as ideias e planejar como que elas entrarão em ação.
BC – O ex-governador José Roberto Arruda se relançou candidato e já com uma chapa definida. A aproximação com o grupo dele e do Roriz também já esteve na pauta dessas suas reuniões?
Eliana – Ontem mesmo, tive uma conversa com a deputada Liliane Roriz, que está colocada como vice nessa chapa. Buscava um entendimento. Se o diálogo é importante em todas as faces da nossa vida, na política ele é fundamental. O canal está aberto para a gente dialogar. Mas o PPS tem uma proposta tirada no seu congresso de compor uma chapa majoritária. E, pelo visto, nessa chapa deles não tem mais espaço.
BC – O presidenciável Aécio Neves tem orientado o presidente regional do PSDB, Eduardo Jorge, a montar um palanque para sua candidatura aqui em Brasília. E dá claros sinais de que esse nome seria o deputado Pitiman. A senhora aceitaria compor essa chapa como senadora ou como vice?
Eliana – Pelo menos nas conversas que nós temos mantido até agora, não temos percebido que a orientação é essa, que já vem com uma chancela. Divulgamos uma nota conjunta – o Eduardo Jorge, eu pelo PPS e o Alberto Fraga pelo DEM assegurando que não haveria hegemonia de nenhum dos três partidos nem de outras legendas que eventualmente venham se juntar a nós. Seria um contra-senso estarmos convidando outros partidos para entrar nessa discussão com as posições já definidas na chapa. Ou seja, não quer dizer que somente esses três vão compor a chapa majoritária. É importante dizer que estamos abertos ao diálogo, dentro dessa construção. Isso é muito claro. Obviamente, eu tenho essa vontade e esse sonho de ser candidata ao governo, mas esse tem que ser o entendimento de todos os partidos que vão compor essa frente.
BC – Nesse seu sonho, até onde a senhora já caminhou? O que senhora já tem de estruturado em termos de pré-campanha?
Eliana – Nós já rodamos o DF todo. O partido está fazendo uma discussão em cada cidade, coletando informações. Ainda não fechamos todas, mas fizemos em uma boa parte do DF. Temos diretórios definitivos em todas as zonais. Talvez sejamos um dos poucos partidos que têm isso.
BC – O PPS tem muito pouco tempo de televisão. Isto atrapalha?
Eliana – Ninguém é candidato de si mesmo. O PPS não teria um candidato que seria apenas do PPS. Então, qualquer candidatura ao governo terá que agregar forças políticas. Dentro dessa perspectiva está a construção do tempo de televisão. Política é essa arte de agregar mais e mais parceiros.
BC – Quais os partidos efetivamente já sinalizaram com uma possível aproximação com esse grupo?
Eliana – Estamos mantendo conversas com várias legendas e, nesse momento, eu peço que você me permita certa descrição, porque tem fases da negociação que ainda estão em construção. Portanto, é importante ter certa cautela.
BC – Como a senhora vê essa nova união entre dois caciques da política de Brasília, Roriz e Arruda?
Eliana – A política, como dissemos anteriormente, é a arte do diálogo e da conversa permanente. Então, da mesma forma que não existem companheiros eternos, também não há inimigos para sempre. O diálogo é constante, a partir de análises de cenários. Existem concorrentes num determinado momento, que depois podem se tornar parceiros. Com isso, se busca, nessas conversas, deixar pra lá o lado emocional e pessoal, para olhar o lado coletivo. Não se faz política com o fígado. Então, temos a reunião de duas grandes expressões da política do DF, que têm o que mostrar em termos de gestão. Apesar das implicações jurídicas, ambos têm história. É inegável o esforço que fez o Roriz para retirar pessoas de invasões, criando assentamentos muito precários e que, hoje, são cidades consolidadas, como Samambaia e Santa Maria. Quando eles se unem, aproveitando essa imagem que eles construíram, esse grande poder de articulação e, sobretudo, carisma, passam a ser, sem dúvida, uma alternativa. É importante que a população do DF tenha várias chapas, para que possa verificar com quais ela tem mais identificação. Acho que é a primeira eleição que ninguém pode dizer que conhece exatamente a cabeça do eleitor. Não está bipolarizada.