Caroline Romeiro (*)
Raiane Oliveira de Araújo (*)
As chamadas “canetas emagrecedoras”, que utilizam medicamentos à base de agonistas do receptor de GLP-1 como a semaglutida e a tirzepatida, vêm revolucionando o tratamento da obesidade. Em poucos anos, esses fármacos passaram de opções restritas a prescrições amplamente utilizadas, com resultados expressivos na perda de peso e no controle de doenças metabólicas, como o diabetes tipo 2.
Mas, junto aos benefícios, surge um ponto de atenção: a perda de massa muscular. Pesquisas recentes, publicadas em 2024 e 2025 em revistas alto impacto mostram que de 25% a 30% da perda total de peso em pessoas que usam esses medicamentos pode vir de massa magra, que inclui a musculatura.
Embora parte dessa perda seja natural em qualquer emagrecimento, quando ela acontece em excesso pode comprometer força, metabolismo e qualidade de vida. Por isso, especialistas têm chamado a atenção para o risco da “obesidade sarcopênica”, uma condição em que há excesso de gordura corporal, mas também redução de massa e força muscular. Esse quadro pode fazer com que o corpo fique mais fraco, mesmo após o emagrecimento, e aumentar o risco de quedas, fadiga e recuperação mais lenta.
O ponto central não está nos medicamentos em si, mas na forma como eles são usados. O GLP-1 reduz o apetite e facilita o déficit calórico. Mas, sem um acompanhamento nutricional adequado, o organismo pode começar a perder também o que deveria ser preservado: músculo. É por isso que o acompanhamento com nutricionista é essencial desde o início do tratamento.
Manter uma ingestão protéica adequada ajuda a sustentar a síntese protéica muscular. Avaliar periodicamente medidas corporais, força e composição corporal também é importante para detectar cedo qualquer perda muscular e ajustar o plano alimentar.
Além da alimentação, o exercício físico é um aliado indispensável. Treinos de força, realizados regularmente e com progressão adequada, são comprovadamente eficazes para preservar massa e força muscular durante o uso das canetas emagrecedoras.
Estudos recentes da National Strength and Conditioning Association mostram que pacientes que associam o medicamento a programas de treino perdem mais gordura e menos músculo, mantendo, inclusive, o metabolismo mais estável a longo prazo.
A ciência é clara: o melhor resultado vem da combinação entre medicamento, nutrição e exercício. As canetas emagrecedoras podem ser ferramentas valiosas no tratamento da obesidade, desde que usadas com responsabilidade e acompanhamento profissional.
O futuro do emagrecimento passa por enxergar o corpo além da balança, equilibrando a perda de gordura com a preservação da força e da vitalidade.
(*) Mestre em Nutrição Humana, Coordenadora Técnica de Nutrição do Conselho Federal de Nutrição e Docente do Curso de Nutrição da Universidade Católica de Brasília (UCB)
(**) Estudante do 8º semestre da UCB