EDITORIAL
O Brasil celebra o Dia da Consciência Negra em 20 de novembro. A data, que também marca o Dia Nacional de Zumbi dos Palmares, se tornou feriado nacional a partir de 2023 e serve para que relembrarmos e valorizar nossa história, cultura e identidade nacional.
Leia a edição especial sobre o Dia da Consciência Negra
Ainda que a formação social do Brasil comece muito antes da chegada dos europeus no nosso território, até o ano retrasado havia quatro feriados nacionais ligados ao cristianismo e nenhum relacionado ao povo negro. E esta é apenas a pontinha do iceberg.
Nos anos 1970, a antropóloga Lélia González alertava que os negros não deveriam se contentar com as aparições estereotipadas durante festas populares. Ela criticava, especialmente, a sexualização da mulher negra durante o carnaval.
Contemporâneo de Lélia, Antônio Candeia traduziu a teoria em samba: “Deixa de ser rei só na folia/ Faça da sua Maria uma rainha todos os dias/ E cante um samba na universidade/ E verá que teu filho será príncipe de verdade”.
Ouça a música de Candeia:
A ideia de cantar o samba na universidade começou a virar realidade em 2012, com a promulgação da Lei de Cotas. A partir de então, o número de ingressos na educação superior federal por meio de políticas públicas afirmativas aumentou 167%.
Somente em 2022, de acordo com o Censo da Educação Superior, 108 mil negros estudaram e viraram “príncipes de verdade”, como cantou Candeia. Os números, entretanto, vão na contramão de Lélia, de Candeia e da evolução da espécie humana.
Divulgado em agosto deste ano, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública revelou que das 44.127 mortes violentas em 2024 registradas no Brasil, 79% tiveram vítimas negras. Quase metade delas tinha até 29 anos.
No ano em que Lélia e Candeia completariam 90 anos, e na semana em que o Brasília Capital chega à sua 750ª edição semanal ininterrupta, o jornal assume de que lado está, embora sabendo não há muitos motivos para comemorar.
Mas são infinitas as razões para continuarmos trabalhando para não deixar o brasileiro esquecer suas origens e para alertar sempre, como ensinaram Lélia e Candeia: Negro, não negue a raça!
BRASÍLIA CAPITAL, um jornal necessário.