Caroline Romeiro (*)
A COP30, que será realizada no Brasil (em Belém do Pará), em novembro, colocará o País no centro das discussões globais sobre o enfrentamento à crise climática. Mas você sabia que a forma como produzimos e consumimos alimentos é uma das maiores causas — e também uma das possíveis soluções — para o aquecimento global?
O recém-lançado “Marco de Referência de Sistemas Alimentares e Clima para Políticas Públicas”, do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), mostra como o sistema alimentar — do campo ao prato — responde por cerca de 70% das emissões brasileiras de gases de efeito estufa.
O documento evidencia que a mudança do clima afeta diretamente o acesso, a qualidade e o preço dos alimentos. Secas, enchentes e calor extremo já comprometem plantações, reduzem a produtividade agrícola e aumentam o custo da comida. Ao mesmo tempo, os atuais modelos de produção, baseados em monoculturas e uso intensivo de agrotóxicos, degradam o solo, contaminam a água e ameaçam a biodiversidade. É um ciclo perigoso: o sistema alimentar intensifica o aquecimento global, e o clima alterado ameaça nossa segurança alimentar e nutricional.
Para reverter esse quadro, o Marco de Referência propõe uma transição para sistemas alimentares sustentáveis, saudáveis e justos, valorizando a agricultura familiar, a agroecologia e os circuitos curtos de comercialização. Isso significa fortalecer a produção local de alimentos frescos e diversificados, reduzir o desperdício e o consumo de ultraprocessados e promover políticas que integrem clima, saúde e alimentação. O documento também ressalta a importância da justiça climática e da participação social na construção dessas soluções.
Na COP30, o Brasil terá a oportunidade de mostrar que o combate à crise climática começa na mesa. Nossas escolhas alimentares diárias — o que compramos, cozinhamos e comemos — podem ajudar a reduzir emissões, proteger biomas e garantir o direito humano à alimentação adequada.
Repensar o sistema alimentar é, portanto, uma das chaves para enfrentar as mudanças climáticas e garantir um futuro mais saudável para todos.
(*) Mestre em Nutrição Humana, Coordenadora Técnica de Nutrição do Conselho Federal de Nutrição e Docente da Universidade Católica de Brasília