A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar a procedência e a rede de distribuição de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol, após o registro de três mortes em São Paulo. A determinação partiu do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski.
“Na segunda-feira, determinamos ao dr. Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF, que abrisse um inquérito policial para verificar a procedência dessa droga e a rede possível de distribuição que, ao tudo indica, transcende o limite de um único estado. Tudo indica que há distribuição para além do estado de São Paulo”, afirmou o ministro.
De acordo com a Secretaria de Saúde foram confirmados sete casos de intoxicação e 18 suspeitos em investigação. Do total, uma morte foi confirmada por metanol e quatro estão sob investigação.
“Temos, na nossa série histórica, cerca de 20 casos por ano de intoxicação por metanol, notificados pelos profissionais de saúde e enviados ao nosso Sistema Nacional. Para se ter ideia, a partir de setembro se notificou quase metade daquilo que se notificou ao longo de um ano”, ressaltou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
PCC
O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, informou que a corporação, junto com a Polícia Civil de São Paulo, investiga a ligação da adulteração de bebidas alcoólicas com o crime organizado, no caso o PCC.
“Dentre as razões, a questão da interestadualidade e a possível conexão com investigações recentes que fizemos, especialmente no estado do Paraná, com outras duas de São Paulo, em razão de toda a cadeia de combustível, onde parte disso passa pela importação de metanol pelo Porto de Paranaguá”, explicou.
Mercado ilegal
Em nota, a Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD) afirmou que é importante diferenciar o setor produtivo formal, que segue padrões rigorosos de qualidade e segurança, do mercado ilegal.
Para a entidade, o avanço do mercado ilegal de bebidas alcoólicas no Brasil representa uma ameaça grave à saúde pública, fragiliza a arrecadação tributária e alimenta a cadeia do crime organizado.
Um estudo da Euromonitor divulgado em julho, encomendado pela ABBD, aponta que o Brasil deixou de arrecadar R$ 28 bilhões em 2024 devido à falsificação, contrabando e produção clandestina.
Além disso, do volume de bebidas destiladas, 28% são ilegais, objetos de crimes como sonegação fiscal, contrabando/descaminho, falsificação e produção sem registro. Estima-se que a cada 5 garrafas de whisky ou de vodca, 1 seja potencialmente falsa.
“A alta carga tributária do setor de destilados e a impunidade estão entre os principais fatores que estimulam o comércio ilícito. É importante entender que um sistema tributário mais simples e equitativo, que inclua uma alíquota única para todas as bebidas e não puna ainda mais o setor de destilados, é fundamental para ajudar no combate às atividades criminosas e, consequentemente, na redução da perda fiscal”, pontua Eduardo Cidade, presidente da ABBD.
Um produto ilegal é vendido, em média, 35% mais barato do que o original e a diferença podendo chegar a até 48% em mercados na internet.