Brasília tem um representante classificado para a Deaflympics 2025, o maior evento do mundo para atletas surdos, que será realizado em Tóquio, no Japão, de 15 a 26 de novembro deste ano, com atletas de 90 países. Mas Esdras Coutinho, de 33 anos, um dos dez melhores nadadores surdolímpicos do planeta, corre o risco de ficar fora da competição por falta de patrocínio.
Com mais de uma década de carreira, Esdras é o único representante do Centro-Oeste na Seleção Brasileira de Natação de Surdos. Já foi campeão pan-americano, sul-americano e brasileiro, e disputou três edições anteriores da Surdolimpíadas. Neste ano, conquistou duas medalhas de ouro no Pan-Americano de Surdos, reforçando a posição na elite mundial.
Atualmente, ele treina na academia D’Stak, com o técnico Victor Pickina, e faz a preparação física na Nação Club. As academias oferecem bolsas de treino, mas sem apoio financeiro. Para manter a rotina esportiva, Esdras trabalha como professor de Educação Física no Colégio Ideal, onde estudou. Parte do salário ele investe na carreira de atleta.
“Gasto cerca de 30% do que ganho com médico, nutricionista, suplementos e preparação. As viagens internacionais são todas por minha conta. Nunca tive um patrocinador fixo”, relata Esdras, que recebe a Bolsa Atleta federal – valor insuficiente para cobrir os custos com passagem, hospedagem, alimentação e suporte logístico para os 15 dias de competição no Japão. Por isso, depende da ajuda de empresas ou doações para viabilizar sua participação no torneio.
Esdras Coutinho: “Não quero só competir. Quero inspirar outras pessoas surdas, mostrar que é possível” – Foto: Arquivo Pessoal
INVISIBILIDADE – A situação de Esdras não é isolada. Fora do circuito olímpico e paralímpico, os atletas surdos costumam enfrentar ainda mais dificuldades para competir. Sem visibilidade na mídia e com pouco apoio institucional, a categoria vive à margem das políticas públicas. “A comunidade surda é muito escondida. Falta informação, divulgação, apoio. A Confederação Brasileira de Desportos de Surdos tem feito um ótimo trabalho, mas ainda é pouco”, diz o atleta.
Mesmo com índices e histórico comprovados, Esdras já ficou fora de competições internacionais no passado por não conseguir bancar os gastos. Mas, para ele, estar na Deaflympics é mais do que uma meta esportiva, é também uma forma de resistência.
Uma vida recomeçada na água
A trajetória de Esdras na natação começou por necessidade aos três anos, após ser diagnosticado com meningite bacteriana grave. Passou uma semana em coma, 25 dias internado no Hospital Santa Lúcia e mais 8 dias no Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB). Sobreviveu, mas perdeu a audição e, temporariamente, a capacidade de andar.
A recuperação começou na água, em treinos em clubes de bairro. Depois, passou pelo Sesc e pelo Iate Clube. Como não escuta o apito da largada, os técnicos desenvolveram uma forma alternativa de comunicação: um toque no calcanhar. Nem sempre largava junto com os adversários, mas costumava chegar antes deles. Com o apoio de treinadores como Jorge, Tena, Baiano, Márcio Canadá, Fábio Costa e Fabiano Terra, chegou à seleção. Fabiano foi quem o apresentou ao universo surdolímpico, abrindo portas para o cenário internacional.
“INSPIRAR OUTRAS PESSOAS” – Com a classificação garantida, Esdras precisa viabilizar a viagem ao outro lado do mundo. Ele estima em 25 mil reais os custos com passagens, hospedagem e alimentação durante os 15 dias de competição. “Eu não quero só competir. Quero inspirar outras pessoas surdas, mostrar que é possível. Mas eu preciso de ajuda para chegar lá”, afirma Esdras.
Enquanto tenta conseguir apoio, Esdras segue treinando com um desempenho que fala alto, em busca do sonho de representar o Brasil e subir ao pódio novamente.