Júlio Pontes
A esta altura, você já está careca de saber que, no domingo (21), milhares de brasileiros foram às ruas para manifestações contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem e contra o projeto que prevê anistia a condenados tentativa de golpe e pelos atos do 8 de janeiro de 2023. Mas este texto é um convite à reflexão.
Além de políticos, o que se viu nos trios elétricos foram artistas. Aliás, foram eles que motivaram as pessoas a irem às ruas. Dois dias antes dos protestos, a funkeira Anitta, 32 anos, divulgou um vídeo, em parceria com o portal de notícias Mídia Ninja, que atingiu 10 milhões de visualizações.
Anitta e Djonga, 31 anos, que esteve no ato em Brasília, são raros exemplares de artistas “novos” e que lideram os progressistas no Brasil. O que se viu no domingo foram rostos conhecidos há muito tempo, como Chico César (61), que estava com Djonga na no Museu da República, em Brasília; Chico Buarque (81), Caetano Veloso (83), Gilberto Gil (83), e Djavan (76), que se reuniram em Copacabana, no Rio de Janeiro; e Daniela Mercury (60) e Wagner Moura (49), que estavam em Salvador.
As músicas entoadas ainda relembram a luta pela Democracia e contra o regime militar. “Apesar de você” (1978) e “Cálice” (1973), de Chico Buarque foram tocadas país afora. “Divino Maravilhoso”, gravada por Gal Costa em 1969, foi tocada ao vivo, em Copacabana, pela dupla compositora Caetano e Gil.
ELEIÇÕES – A falta de renovação nos quadros da esquerda não é flagrante apenas nas manifestações de rua, nas redes sociais ou no Spotify. Basta lembrar que Lula é o principal nome do campo ideológico desde 1989, enquanto seus adversários já foram Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Aécio Neves, Jair Bolsonaro e até o atual vice-presidente, Geraldo Alckmin.
Agora, o PT parece que escolheu a dedo o seu adversário. Com Bolsonaro inelegível e a baixa confiança que seus filhos transmitem, Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, lidera as críticas dos petistas. Outro alvo é o presidente Donald Trump e o “patriotismo norte-americano” estampado na bandeira dos EUA na Paulista no último ato bolsonarista.
Portanto, as manifestações de domingo não foram contra a PEC da Blindagem e nem mesmo contra a Anistia, mas sim, para a esquerda tentar retomar um palco que era exclusivamente seu: as ruas.