Sete em cada dez estudantes do ensino médio conectados à internet no Brasil já recorreram a ferramentas de inteligência artificial generativa para pesquisas e atividades escolares. O dado é da pesquisa TIC Educação 2024, divulgada na terça-feira (16) pelo Cetic.br/NIC.br, que ouviu 10.756 pessoas em 1.023 escolas públicas e privadas de agosto de 2024 a março de 2025.
Entre os alunos dos anos finais do ensino fundamental, a proporção é menor, mas também expressiva: 37% disseram já ter usado IA em atividades escolares. Apesar da adesão, apenas 32% dos jovens do ensino médio afirmaram ter recebido orientações formais de suas escolas sobre como aplicar essas tecnologias de maneira crítica e segura.
O relatório mostra que, além dos buscadores tradicionais, estudantes ampliaram o uso de plataformas digitais de vídeo, como YouTube, TikTok e Kwai, como complemento para pesquisas. A entrada da IA nesse cenário, contudo, chama atenção pelo ritmo acelerado com que foi incorporada ao cotidiano dos alunos mais velhos.
Pesquisadores apontam que esse movimento ocorre, em grande parte, sem acompanhamento pedagógico estruturado. Muitos estudantes acessam ferramentas de IA sem apoio para avaliar autoria dos conteúdos, checar a confiabilidade das fontes ou identificar possíveis vieses nas respostas. A lacuna reforça a necessidade de formação docente voltada para a mediação crítica desse uso.
O estudo também expõe desigualdades. Embora a maior parte das escolas já esteja conectada à internet, o acesso a equipamentos e recursos digitais ainda varia bastante entre redes públicas e privadas, assim como entre regiões urbanas e rurais.
Pesquisas realizadas por institutos privados, como Opinion Box e CX Brain, corroboram a popularização da tecnologia. Dados recentes mostram que 97% dos internautas brasileiros dizem conhecer o conceito de IA, 70% utilizam algum recurso do tipo ao menos uma vez por semana e mais da metade busca aprender novas formas de aplicação prática.
Para especialistas, o Brasil atravessa uma etapa de transição: a IA já se consolidou como prática entre estudantes, mas ainda carece de parâmetros claros em termos de regulação, ética e inclusão. O desafio, segundo eles, é aproveitar a eficiência tecnológica sem abrir mão de práticas pedagógicas que assegurem qualidade e equidade no processo de aprendizagem.