Raiane Oliveira de Araújo (*)
Caroline Romeiro (**)
De 2000 a 2022, a taxa de obesidade no mundo triplicou entre crianças e adolescentes, enquanto o sobrepeso dobrou. Em 2025, pela primeira vez, a obesidade superou a desnutrição como forma mais comum de má nutrição entre pessoas de 5 a 19 anos.
O relatório “Alimentando o Lucro: Como os Ambientes Alimentares estão Falhando com as Crianças”, divulgado pelo Unicef, aponta que uma em cada cinco crianças e adolescentes no mundo — cerca de 391 milhões — está acima do peso, sendo que 188 milhões já vivem com obesidade. No mesmo período, a desnutrição caiu de quase 13% em 2000 para 9,2% em 2025, enquanto as taxas de obesidade triplicaram, passando de 3% para 9,4%.
No Brasil, a transição nutricional ocorreu de forma precoce. Desde os anos 2000, a obesidade já superava a desnutrição entre jovens. A prevalência de obesidade em crianças e adolescentes passou de 5% em 2000 para 15% em 2022, enquanto o sobrepeso dobrou de 18% para 36% no mesmo período. Em contrapartida, a desnutrição aguda recuou de 4% para 3%.
Esse movimento revela o impacto crescente dos alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar, sal e gorduras de baixo valor nutricional, que ocupam espaço cada vez maior nas prateleiras, escolas e plataformas digitais, impulsionados por estratégias de marketing agressivas voltadas ao público jovem.
As consequências são graves tanto para a saúde quanto para a economia. Estima-se que até 2035 o impacto financeiro global do sobrepeso e da obesidade ultrapasse US$ 4 trilhões/ano, pressionando sistemas de saúde e aprofundando desigualdades sociais.
PNAE – No Brasil, políticas públicas vêm desempenhando papel fundamental no enfrentamento do problema. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), por exemplo, passou a restringir progressivamente a compra de ultraprocessados nas escolas públicas, destinando a maior parte dos recursos a alimentos in natura e minimamente processados, como arroz, feijão, frutas e legumes.
Outras medidas também reforçam a proteção à infância, como a rotulagem frontal de advertência em alimentos industrializados e o banimento de gorduras trans, que favorecem escolhas mais saudáveis.
O alerta do Unicef é claro: a má nutrição do século XXI não está mais associada apenas à escassez de alimentos, mas também ao excesso de produtos de baixo valor nutricional.
Garantir que crianças tenham acesso a refeições frescas e nutritivas é mais do que uma questão de saúde pública — é um compromisso com o desenvolvimento e o futuro das próximas gerações.
(*) Estudante de Nutrição da Universidade Católica de Brasília (UCB) – autora
(**) Professora da UCB, nutricionista e colunista do BSB Capital – revisora