Conhecida como “celeiro do Distrito Federal”, Brazlândia recebe, a partir desta sexta-feira (5), a 29ª edição da Festa do Morango. A expectativa da Administração Regional é de que 360 mil pessoas passem pela Associação Rural Cultural Alexandre de Gusmão (Arcag), no Incra 6, durante os seis dias de evento, movimentando cerca de R$ 30 milhões.
A administradora regional Luciana Lima reforça que a Festa do Morango é um patrimônio da cidade. Segundo ela, o GDF investiu este ano R$ 3 milhões por meio das Secretarias de Cultura e Economia Criativa e de Turismo. O patrocínio do governo ajudou na contratação de artistas que farão shows durante todos os dias da festa.
Administradora regional Luciana Lima – Foto: Antonio Sabino / BSB Capital
“É um investimento que retorna em dobro para a cidade. A festa movimenta supermercados, produtores de polpas, artesanato, gastronomia, hotelaria e diversos setores”, elenca Luciana Lima.
Trabalho em família
A maior parte da produção vem de regiões mais frias de Brazlândia, como Rodeador e Morada dos Pássaros, onde a fruta é colhida pelas mãos de produtores locais. É o caso de Abides Gonçalves, de 61 anos, e da filha mais nova Jéssica Gonçalves, de 27. Casado há quase quatro décadas com Graça, 55, o agricultor vive em Brazlândia desde 2015 com a família, para onde se mudou pouco tempo depois de perder o emprego.
“Eu trabalhava na construção civil, mas com o escândalo nos órgãos públicos, o setor caiu e fui demitido. Decidimos voltar para a roça, arrendamos uma chácara e começamos com o morango. Hoje, temos nossa própria terra. Já são dez anos plantando”, conta.
Das quatro filhas do casal, Jéssica é a única que ainda mora com os pais e participa da produção. As outras três, embora não residam na chácara, costumam ajudar nos finais de semana, principalmente durante a colheita. “É a hora que todos se juntam. Os netos fazem a festa comendo morango”, diz o avô coruja.
A família Gonçalves cultiva cerca de 20 mil pés de morango e chega a colher até dois mil quilos por mês. O cultivo requer um processo minucioso: as mudas são trazidas do Sul de Minas Gerais e os canteiros são preparados com antecedência de 30 a 40 dias. Após o plantio, cada 5 mil pés recebem diariamente cerca de 800g de adubo via irrigação por gotejamento.
É necessário molhar a plantação a cada dois dias para remover a poeira das folhas. Outro cuidado é a proteção com plástico na base da planta, que mantém a umidade do solo e evita que os frutos toquem a terra. “Este ano plantamos três variedades diferentes: Valentina, San Andreas e Sabrina. No ano passado, ganhamos o prêmio de melhor morango Cristal na festa”, lembra Abides, orgulhoso, explicando que a colheita começa 60 dias após o plantio, em meados de março, e segue até outubro, a depender do período de chuvas.
Diversificação e apoio técnico
Além dos morangos, os Gonçalves cultivam hortaliças, como repolho, beterraba, cenoura, abobrinha italiana e abóbora menina. “A gente planta o que for mais vantajoso no ano. Não tem época certa como o morango. Assim, conseguimos manter uma produção contínua”, explica Jéssica.
Apesar do apoio técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF), órgão que presta consultoria sobre manejo, fertilização e uso eficiente da água, os custos ainda são altos. No caso do morango, cada muda sai por R$ 4,50, enquanto o quilo do fertilizante chega a R$ 30.
Outras dificuldades para os agricultores familiares são transporte, distribuição e acesso a mercados maiores. “O pequeno produtor sempre tem mais dificuldade para vender, especialmente se depender de intermediários na comercialização”, explica Abides.
Produtor local Abides Gonçalves – Foto: Antonio Sabino / BSB Capital
Para driblar esses obstáculos, ele e a filha se organizam por meio de uma associação local e diversificam os canais de venda, entregando morangos diretamente a supermercados, boleiras e confeiteiras em cidades próximas, a exemplo de Águas Lindas (GO).
DOÇURA E SABOR – Além da fruta in natura, produtos derivados caíram no gosto dos clientes. Jéssica lidera a produção de doces que são vendidos durante a Festa do Morango, incluindo o “potinho da felicidade” (combinação de morango picado com doces artesanais) e a coxinha de morango, envolta de brigadeiro.
Durante o festival, a renda chega a triplicar. “Se em agosto a gente fatura R$ 20 mil, em setembro pode chegar a até R$ 65 mil. É o nosso melhor mês”, ressalta. Os grandes responsáveis pelo aumento da receita são o sorvete e o picolé artesanal feitos com a fruta. A ideia, menciona Jéssica, surgiu do desejo de agregar valor à produção e inovar nas vendas.
“A gente queria sair do lugar comum. Não vender só o morango na caixa, mas algo diferente, que chamasse atenção e tivesse a nossa identidade”, diz a caçula, que também cursa Psicologia em Águas Lindas.
Para o futuro, ela sonha produzir o sorvete com receita própria, ampliando ainda mais o portfólio da família Gonçalves.
A febre do Morango do Amor
O Morango do Amor — releitura do tradicional doce junino feito de maçã —, é o chamariz para este ano. Segundo Abides, a tendência, que viralizou nas redes sociais, representou impacto direto no bolso.
“Este ano foi o melhor valor que já conseguimos por uma caixa de morango. Se o Morango do Amor tivesse vindo um pouquinho depois, no auge da nossa colheita, teria sido ainda melhor. Mas já foi um alívio enorme”.
Até a administradora Luciana Lima entrou na onda. “Esperamos tanto Morango do Amor que eu brinco dizendo que talvez nem tenhamos morango in natura suficiente para a festa”.
PÚBLICO E ESTRUTURA – Com feira de artesanato, praça de alimentação e shows nacionais de Rio Negro & Solimões, Natanzinho Lima, Murilo Huff, Léo Magalhães e Calcinha Preta, a Administração estima que o evento atraia de 40 mil a 60 mil pessoas por dia.
A famosa “Morangolândia”, que abriga estandes temáticos e espaços para produtores e expositores de doces e afins, tem o suporte de órgãos públicos, incluindo a Polícia Militar, o Batalhão Rural, a Emater e a Secretaria da Mulher.
A administradora acrescenta que, mesmo se o público exceder às expectativas, a rotatividade natural ajuda no controle de fluxo. “Temos capacidade para até 100 mil pessoas ao longo do dia, porque os visitantes circulam, visitam os estandes, comem, assistem aos shows e depois vão embora. Nos shows, limitamos a entrada a 60 mil pessoas. Por isso, recomendamos chegar cedo”, diz Luciana. E completa: “É uma festa segura, para todas as idades. Tudo é preparado com muito carinho. O Morango do Amor não decepciona”.