A curiosidade pela Coreia do Sul tem crescido em todo o Brasil, com o K-pop, os K-dramas e a Hallyu (“Onda Coreana”) conquistando cada vez mais fãs. Surpreso e animado com esse interesse, o embaixador sul-coreano no Brasil, Choi Yeong Han, conta que não imaginava ver tamanha paixão dos brasileiros pela cultura do país.
“Eu não sabia que havia tantos jovens do Brasil que gostam tanto da cultura coreana. É uma grande alegria encontrá-los. Na Coreia do Sul, as pessoas também estão se interessando mais pela cultura brasileira, especialmente o samba”, revela, citando que a música e a dança são paixões que aproximam as duas nações.
Dados divulgados pelo Spotify revelam que, em 2025, o Brasil é o quinto país do mundo que mais ouve K-pop. Os brasileiros ficam atrás apenas dos EUA, Indonésia, Filipinas e Japão, prioritariamente mulheres (73%) de 18 a 24 anos (53%). Entre os artistas do gênero mais escutados estão BTS, Stray Kids, BLACKPINK, TWICE e aespa.
Além disso, quase 90% dos brasileiros consomem K-dramas, 55% deles assistem pelo menos uma vez por semana, de acordo com pesquisa da Ecglobal. Em entrevista exclusiva ao Brasília Capital, o diretor do Centro Cultural Coreano no Brasil, Cheul Hong Kim, acredita que o segredo do sucesso está na universalidade dos temas e no acesso pelas plataformas de streaming.
“Embora retratem a cultura coreana, essas produções abordam questões universais como família, carreira, romance e amizade. O formato também ajuda: séries curtas, de até 16 episódios, que estimulam as maratonas. Soma-se a isso o interesse crescente dos brasileiros pela Coreia, do K-pop à gastronomia. O ambiente está pronto para que os K-dramas conquistem ainda mais fãs”, destaca Cheul Hong Kim.
Ainda segundo o estudo, séries (55%), tecnologia (55%), filmes (48%), gastronomia (44%), beleza e cuidados com a pele (41%) e música (41%) são os principais pontos de interesse dos brasileiros quando se fala na Coreia do Sul.
A força da Hallyu
A pesquisadora e doutora em Comunicação e Semiótica, Mariana Seminati Pacheco, explica que o fenômeno da Hallyu é mais do que um movimento cultural em expansão, trata-se de uma indústria bem-estruturada e feita para o mercado.
“A Coreia do Sul, após um século de guerras e instabilidades dentro da península, entre invasões e fragmentação de sua identidade nacional, precisou se reerguer social, econômica e culturalmente. A Hallyu veio em resposta a essa necessidade nos anos 1980”, explica.
Segundo Mariana, o termo veio só em 2000, com um show de sucesso na China do grupo de K-pop H.O.T. A reação dos fãs fez com que a imprensa chamasse o movimento de Hallyu, que se traduz literalmente como “Onda Coreana”. “Aí, adicionamos o termo Pop, por ser um movimento massificado, produzido para vender em larga escala. E voilá, temos a Onda Pop Coreana.”
Depois de se expandir para a Ásia, a Hallyu alcançou o Ocidente com a música “Gangnam Style”, se adaptando posteriormente ao novo mercado. “Gosto de brincar que a Hallyu é um camaleão: sabe se transformar conforme o ambiente pede. Por esse motivo, é difícil prever quando a crista da onda irá diminuir”, complementa.
A Hallyu, na visão da especialista, é uma grande marca “guarda-chuva”, já que além do K-pop e K-dramas, engloba a comida tradicional, os produtos de beleza que as idols usam, bem como as roupas, coreografias que viram trend, os webtoons (quadrinhos), além, claro, da vontade de aprender o Hangul (sistema de escrita coreana) e viajar para a Coreia do Sul.
Brasília no mapa da cultura coreana
Brasília já entrou no circuito dos grandes eventos dedicados à Coreia do Sul. Desde 2023, o K-Festival tem reunido multidões no Plano Piloto. Idealizado para 5 mil pessoas, o festival estreou com 17 mil visitantes por dia, somando público de 53 mil presentes na primeira edição.
Na terceira edição, realizada este ano, a programação contou com dança, gastronomia, arte marcial, aulas de culinária e até shows de mágica. O festival também trouxe atrações internacionais como a banda de K-pop Younite, o rapper Lowell Straight e o multi-instrumentista Vincent K.
Foto: Oh Chaerin/Divulgação
Lowell Straight voltou à Brasília após se apresentar no ChaWonFest e no Nipo Festival em 2025. Ele explica que, na Coreia, atua como artista hip-hop underground e que busca se expressar através da música.
“Sempre busquei uma imagem sincera e expressar o que eu realmente sinto. E quando eu estive aqui no Brasil pela primeira vez, eu me senti um pouco chocado pela cultura, mas logo eu entendi que eu deveria aceitar isso e reconhecer que isso seria uma experiência nova pra mim, que poderia agregar valor à minha carreira. E por isso, acho que agora consigo mostrar um lado mais leve e alegre para os meus fãs”, afirmou.
VOZ DOS FÃS — Aline Braga, 28, social media, participou mais uma vez do K-Festival ao lado do namorado Pedro. Ela conta que há cerca de quatro anos acompanha a cultura coreana por influência da irmã.
“Eu gosto de K-drama e K-pop, principalmente BTS. Eu costumo ir em eventos culturais, adoro experimentar comidas novas e ver todas as barraquinhas. O Pedro nem era tão ligado à cultura, mas já disse que precisávamos vir de cosplay e ele foi atrás de tudo”.
Aline Braga: “O Pedro nem era tão ligado à cultura, mas já disse que precisávamos vir de cosplay e ele foi atrás de tudo.”
Os dois estavam caracterizados como personagens da animação “Guerreiras do K-pop”, o filme mais assistido da história da Netflix. Desde a estreia, em 20 de junho, a produção acumula 236 milhões de visualizações no streaming.