Júlio Pontes
Se eu perguntar para minha avó Maria, de 92 anos, o que é Instagram, com certeza ela não saberá responder. Tentar explicar do que se trata, provavelmente será em vão. O conceito de “rede social” é autoexplicativo para gerações mais novas. Mas, para quem nasceu nos anos 20 ou, 30 do século passado, não.
Mas um político desafia essa lógica. O ex-presidente José Sarney, no auge dos 95 anos, inaugurou, há seis semanas seu perfil no Instagram. É literalmente uma aula. Em um vídeo de 17 de junho, para realçar sua longevidade, escala, sem titubear, o time do Flamengo tricampeão carioca de 1942/44: “Jurandir, Domingos e Nilton…”. E deixa clara sua sanidade. Aproveita para, sutilmente, se posicionar: “No meu estado, torço pelo Maranhão. É um time tranquilo, que não briga com ninguém”.
Entre fotos e vídeos, antigos e novos, Sarney se mostra como um dos políticos de maior credibilidade no País. Logo em sua descrição (para os mais novos, na sua bio) esclarece ao seguidor como quer ser reconhecido: “Escritor, membro da Academia Brasileira de Letras e ex-presidente da República”. A cada post reforça que, agora, não está “em busca de eleitores, mas sim de leitores”.
Sarney não faz dancinha (ainda), mas compartilha momentos de atividade física e aconselha os mais jovens a fazerem o mesmo, sempre com um quê de poesia: “O movimento é a própria expressão da vida”.
Com isso, arranca centenas de elogios a cada post. Há muitos comentários que o pedem de novo na Presidência. Muitos desses, de quem sequer era nascido quando o emedebista assumiu o mandato, após a morte de Tancredo Neves…
ETARISMO – Pode parecer que não, mas o etarismo – preconceito contra idosos – foi um dos responsáveis por mudar os rumos da política mundial. Lembre-se, caro leitor, que o democrata Joe Biden não concorreu à reeleição nos Estados Unidos após grande campanha difamatória, que tinha como pano de fundo sua “incapacidade intelectual de governar a maior nação do Planeta”.
Com isso, saiu da disputa poucos dias antes do pleito, entregando de bandeja a faixa para o republicano Donald Trump. Se tivesse trabalhado sua comunicação antes dos desastrosos debates que o tiraram da disputa, Biden teria mais chance de enfrentar Trump. E talvez não estivéssemos em vias de iniciar um período de taxação de 50% dos produtos brasileiros vendidos aos norte-americanos.
E esta temática estará em jogo na campanha de 2026 no Brasil. Lula, candidato à reeleição, é somente três anos mais novo que Biden. Em caso de vitória, o petista terminaria um eventual quarto mandato com 85 anos. Outro pré-candidato, Ronaldo Caiado, chegaria em 2030 com 81.
Ambos poderão seguir os passos do blogueiro Sarney para mostrar aos eleitores, especialmente aos mais jovens, que as rugas podem ser sinais não só de idade, mas também de sabedoria. E, assim, evitar que o Brasil repita o erro dos Estados Unidos.