Júlio Pontes
A taxação de 50% nos produtos brasileiros comercializados com os Estados Unidos, anunciada por Donald Trump para entrar em vigor a partir de 1º de agosto, não saiu como esperado para os bolsonaristas. A medida, é bem verdade, pode ser interpretada como resposta de Trump a Lula, que cogitou criação de uma nova moeda internacional em reunião do BRICS – grupo de países de economias emergentes no qual o Brasil está inserido.
Entretanto, na carta enviada ao Brasil o presidente americano classifica como “uma vergonha internacional” o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal. Uma amostra de que Trump quer – e vai – participar do processo eleitoral brasileiro em 2026. Só não se sabe se ajudará a direita, já que Bolsonaro está inelegível, ou, com suas atitudes intempestivas, a reeleição de Lula.
ENGAJAMENTO – Desde que venceu a eleição, em outubro de 2022, Lula nunca teve tanto engajamento nas redes. Seu tweet, em resposta a Trump, só não foi mais visto do que aquele que comemorou a vitória nas urnas. No Instagram, o presidente atingiu uma porcentagem de engajamento (2.2%) superior ao que registra desde o início de 2025. Além das redes, Lula foi para a imprensa conceder entrevistas e publicou artigo nos dez principais jornais do mundo.
Mas, além dos números, Trump deu a Lula o que ele não tinha até então: discurso. Uma semana após o anúncio da taxação, 12 dos 15 conteúdos publicados nas redes do presidente envolviam algo sobre “soberania nacional”. Logo depois, o presidente ironizou o “mau humor” de Trump, enquanto comia jaboticabas, vestindo agasalho do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). O slogan proposto pela Secom da Presidência em abril nunca fez tanto sentido: “O Brasil é dos brasileiros”.
E vou ainda mais longe: a esquerda conseguiu unificar o discurso. Tentou-se fazer isso com o projeto de lei que acaba com a escala 6 por 1, mas foi fogo de palha. Recentemente, a taxação dos milionários parecia que ia engrenar. Também não foi para frente porque os não-fanáticos por Lula não embarcaram. Agora, até a centro-esquerda comprou a briga.
O governador Helder Barbalho (MDB-PA), que não é um lulista declarado, publicou vídeo usando a camisa da Seleção. As páginas institucionais do PT, do governo federal e outras entidades ligadas à esquerda usaram símbolos nacionais. Deputados, senadores e influencers progressistas tiraram a poeira da Amarelinha. Tudo em prol da “soberania nacional”.
O resultado foi medido em pesquisa da Quaest que mostrou queda na desaprovação e aumento na aprovação de Lula. Enquanto isso, obviamente, a direita tentou jogar a culpa da taxação americana no presidente brasileiro. Porém, de maneira descoordenada, como não é de praxe.
Prova disto foi o tweet de Eduardo Bolsonaro com críticas nominais ao governador Tarcísio de Freitas. Jair, teve de intervir e foi a público (em entrevista ao Poder 360) para dizer que havia pacificado a situação entre os dois.
Se a camisa da Seleção vai se tornar símbolo da esquerda, como já é da direita, eu não sei. Mas, como diz a música, “pra frente Brasil, do meu coração!”.