Quando o celular do Alexandre José Morais Alves, de 49 anos, notificou ofertando mais uma corrida, ele não imaginou que o passageiro que entraria no seu carro mudaria a vida de sua família. Às 11h30, o produtor audiovisual Marcus Braga, 31, entrou no Fiat Mobi 2020, com destino ao Lago Sul. Ao longo do percurso, Marquinho reclamou da vida: correria do trabalho e um apartamento em obras para receber a filha que chegará em setembro.
Paciente, o motorista ouviu as lamúrias do passageiro. Acalmou o novo amigo e passou a contar os seus próprios problemas: prestação do carro atrasada, aluguel a vencer…. blablabla! Além disso, sua esposa estava impossibilitada de trabalhar, por problemas de saúde, e faltava grana para o presente de aniversário da filha Maria Elise, que fazia 15 anos exatamente naquele 27 de junho.
Marquinho não demorou a entender que naquela disputa de problemas, os de Alexandre eram mais sérios. E mais do que se solidarizar, resolveu ajudar o motorista de aplicativo. Ali, dentro do carro, abriu a câmera do celular e contou a história em seu Instagram pessoal, que tem pouco mais de 6 mil seguidores.
“Gente, o Alexandre não me pediu ajuda em momento algum. Mas quero ajudar. Quem doar qualquer valor vai participar de uma rifa e concorrer a um trabalho audiovisual feito por mim e pela Sopro, minha produtora”, disse nos stories, com a chave pix do motorista na tela.
Em uma hora, foram arrecadados R$ 3,5 mil. Em 24 horas, prazo que um story fica no ar, Alexandre recebeu mais que R$ 10 mil dos amigos de Marquinhos. “Eu não esperava essa repercussão”, disse Marquinho. “Deus colocou aquele passageiro no meu carro para mudar minha vida”, agradece o motorista de aplicativo.
“Quitei o carro e paguei uma conta de água e uma de luz que estavam atrasadas. Fiquei parado entre Sobradinho e o Varjão, sem acreditar”. Naquele dia, Alexandre não trabalhou mais. Encerrou o expediente mais cedo e foi comemorar o aniversário da filha com um presente, pizza e bolo.
Segundo Marquinho, o que comoveu seus amigos foi a sensação de pertencimento. “Eu disse: ‘quero proporcionar isso para minha filha quando ela fizer 15 anos e posso ajudar o Alexandre a realizar também. Isso comoveu meus seguidores’”, acredita. “Até hoje ele me manda os comprovantes das dívidas que paga com o dinheiro das doações”, conta Marquinho.
Tá… Mas o que isso tem a ver com o meu trabalho?
POLÍTICA – Desde a reforma política de 2018, as doações de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais são proibidas no Brasil. Entretanto, existem outras maneiras de arrecadar recursos, além do Fundo Eleitoral: doações de pessoas físicas, financiamento coletivo e comercialização de bens, serviços e promoção de eventos de arrecadação realizados pelo candidato ou partido.
Obviamente, os financiamentos coletivos nunca serão páreo para doações de grandes pessoas jurídicas. Mas podem ajudar. Nas eleições de 2024, os financiamentos coletivos arrecadaram R$ 88 mil para a campanha de Guilherme Boulos, R$ 44 mil para Tábata Amaral e R$ 55 mil para Marina Helena. Para prefeito de São Paulo, os valores podem ser ínfimos. Mas, para deputado distrital, não.
A grande “chave” para que pessoas comuns ajudem financeiramente uma campanha eleitoral é justamente a “sensação de pertencimento” – aquela que os amigos de Marquinho sentiram em relação ao Alexandre.