Ana Clara Mendonça
Imposta pelo administrador Gilvando Galdino, a proibição do uso de quadras de esporte, campos de grama sintética, pistas de skate (bowl e street), patinação e quadras de tênis em Águas Claras, das 22h às 7h, tem gerado insatisfação da comunidade. Segundo a norma, publicada em 9 de junho, qualquer atividade nessa faixa de horário só será permitida mediante autorização da Administração Regional.
Para Luiz Fernando, de 15 anos, que é skatista, mora na cidade e costuma “dar um rolê” na pista que fica em frente a estação de metrô Concessionárias, a medida representa uma política discriminatória. “A tal Lei do Silêncio não pode valer só pra gente. Se fosse algum ricaço fazendo barulho, nem político, nem administrador ia se importar. Quando é skatista, que é minoria, eles querem apontar o dedo e reprimir. A gente também paga imposto. Estão impedindo o nosso direito de ir e vir”, protesta.
O jovem acrescenta que o equipamento público está em más condições. “Foi a comunidade que reformou a pista. Essa norma mostra que estão mais preocupados em calar a gente do que em resolver os problemas reais. Em Águas Claras, falta estrutura, tem várias ruas com buracos e postes apagados ”.
Luiz Fernando: “Estão impedindo o nosso direito de ir e vir”. – Foto: Tácido Rodrigues/BSB Capital
Dona Amélia, que frequenta a praça onde fica a pista de skate, cobra mais fiscalização e revela que raramente há reclamações de barulho excessivo no período noturno. “Se tivesse mais fiscalização, já resolveria o problema. Uma vez ou outra aparecem policiais porque alguém denunciou barulho, mas isso quase nunca acontece depois das 22h”, atesta.
SEGURANÇA – O engenheiro civil Bruno Matos, que mora há três anos em um prédio a cerca de 100 metros do ponto de encontro em que a garotada se reúne, aponta que o convívio é pacífico e até benéfico quando passeia à noite com os cachorros Ruffles e Peteca. “Eu nunca ouvi barulho que passasse do ponto. Eles costumam encerrar cedo. Inclusive, me sinto mais seguro com eles (skatistas) aqui. Prefiro a praça movimentada do que vazia. São meninos brincando, buscando lazer, não trazem perigo algum”, opina.
Bruno Matos: “Prefiro a praça movimentada do que vazia”. – Foto: Tácido Rodrigues/BSB Capital
MINORIA – Para justificar a determinação, Gilvando Galdino argumenta que a restrição de horário atende a um “pedido da comunidade”. “Os moradores querem descansar. Quem é jovem passa a noite acordado e toca a vida, mas idosos, doentes e recém-nascidos nunca mais recuperam esse sono perdido”. Mas ele já admite a possibilidade de realizar audiências públicas nas vizinhanças de duas praças das cidades, sem especificar quais seriam.
Ele desconsidera, contudo, os dados oficiais da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD-DF 2024), que abalizam que Águas Claras tem população majoritariamente jovem: são 141.872 moradores, com idade média de 35,9 anos. Por outro lado, os idosos representam o menor grupo etário da cidade.