Samantha é a paixão de seus tutores Bruno e César. A família mora num apartamento na Quadra 107 Norte de Águas Claras e a cadela precisa descer três vezes por dia para satisfazer suas necessidades fisiológicas. De hábitos noturnos, uma característica da raça Fila Brasileiro, o animal se diverte mais no passeio que fazem por volta da meia-noite.
Mas esta rotina pode ser alterada com uma norma baixada no último dia 9 de junho pelo administrador regional Gilvando Galdino, proibindo o uso das quadras de esportes da cidade das 22h às 7h. “É nesse horário que podemos soltar a Samantha para ela correr no espaço fechado da quadra, depois de fazer cocô e xixi na grama, que nós recolhemos e colocamos no contêiner de lixo”, detalha César.
Recém-chegado na cidade – tomou posse no dia 7 de abril –, Galdino, que é morador de Vicente Pires, afirma ter tomado a decisão a pedido dos moradores e com base na Lei do Silêncio. Mas admite não ter feito nenhuma audiência pública para ouvir a população e, tampouco, apresenta um estudo do órgão competente, o Ibram (Instituto Brasília Ambiental), com a medição dos decibéis emitidos pelos usuários daqueles espaços públicos após as 22h. “Fui a um apartamento vizinho a uma praça onde tem uma pista de skate e uma quadra de esportes. De fato, o barulho é muito forte”, diz, confiante na sensibilidade de seus próprios ouvidos. Ele também garante que, até o momento, não recebeu qualquer tipo de questionamento do Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT).
Gilvando Galdino – Foto: Geovana Albuquerque/Agência Brasília.
O presidente da Associação de Moradores de Águas Claras (Amaac), Roman Cuattrin, confirma ter encaminhado demandas para a Administração sobre o mau uso dos espaços públicos a partir das 22h. “Somos favoráveis a um regramento para utilização das praças”, diz ele. “As pessoas querem sossego”, ressalta.
César e Bruno lamentam que a medida tenha sido adotada sem qualquer tipo de debate e acreditam que a comunidade, como um todo, será prejudicada. “Há alguns dias, vimos uma mulher sendo seguida por um homem. Ela corria e olhava para trás. Quando o sujeito nos viu com a cachorra, parou. E a mulher escapou. Ligamos para a polícia, que não compareceu ao local”, conta César. Ele não tem dúvida de que a presença dos três na rua, além de outras pessoas que praticam esportes ou trabalham nos food trucks da praça, acaba se tornando um fator de segurança para as pessoas que precisam andar a pé, retornando do trabalho ou da escola.
Responsável pela indicação de Gilvando Galdino para a função, o deputado distrital Pastor Daniel de Castro (PP) lavou as mãos: “Não falo pela Administração, até porque não vivo o dia a dia da cidade. Mas sei que a população está adorando. Havia um uso extremamente perturbador das praças. A normatização do horário traz mais paz e tranquilidade para os moradores que querem descansar dos seus trabalhos diários”, acredita Castro, também residente de Vicente Pires.