“Bandido Raimundo Viana!” são os dizeres escritos nos tapumes que cercam uma obra inacabada na Rua 4 da Colônia Agrícola Samambaia, em Vicente Pires. O “bandido” em questão é o vereador de Monte Alegre (PI), Raimundo Viana, acusado de envolvimento em um golpe imobiliário por meio de sua empresa no Distrito Federal, a RMVF Construtora e Incorporadora.
O caso, iniciado em 2016 e prestes a completar nove anos, tramita na Justiça, após cerca de 50 compradores denunciarem, na Delegacia de Vicente Pires, que adquiriram apartamentos no Residencial Safira, que começou a ser construído naquele ano, mas que até hoje não foi entregue.
Os compradores alegam ter pago pelos imóveis valores que chegam a R$ 800 mil, mas, até o momento, não receberam os apartamentos ou qualquer explicação sobre o andamento da obra. O empreendimento começou a ser construído com a promessa de entrega para 2022. Porém, a obra foi embargada em 2019, e desde então permanece em grande parte inacabada.
Projeto irregular – Além disso, a construção não segue as normas legais da região, uma vez que a legislação local proíbe a edificação de prédios com mais de três andares – o Residencial Safira possui seis andares e uma cobertura – o que coloca em questão a regularidade do projeto.
Em 2023, a Justiça determinou a demolição de construções semelhantes em Vicente Pires, caracterizadas como “grilagem vertical”, embora a decisão tenha sido posteriormente suspensa. “Antes de a Justiça embargar pelo tamanho do prédio, a obra já estava parada por negligências do Viana. Mas, antes desses embargos, os compradores já poderiam estar morando lá se os apartamentos tivessem sido entregues no prazo acordado”, afirma Matheus Venzi, um dos compradores afetados.
“Picareta”
Matheus e Gabriella Venzi compraram um apartamento no Residencial Safira em 2021, mas não conseguiram morar nele devido a paralisações na obra. O corretor Marcelo Viana, irmão do vereador Raimundo Viana, deu poucas informações, e justificou os atrasos alegando falta de pagamento de outros compradores, embora muitos já tivessem quitado os imóveis. O casal sempre cumpriu com suas obrigações contratuais, mas enfrentou dificuldades pela falta de comunicação.
“Na Justiça agora tem uma petição e nosso objetivo é tentar recuperar a obra. No momento, a gente quer tomar posse do espaço, porque tem esses embargos, para que, depois de regularizada a situação, a gente possa terminar a construção”, explica Matheus.
“É um sentimento de revolta. Foi o dinheiro que juntamos durante anos para casar e morar juntos, e a gente passou por esse processo difícil. A gente fica muito revoltado, porque são anos de trabalho investidos e não sabemos se vamos receber o apartamento. Uma negligência”, lamenta.
Matheus também suspeita que Raimundo Viana tenha usado o dinheiro do empreendimento para sua campanha política. “Ele é basicamente um picareta”, afirma.
O Brasília Capital tentou contato com o vereador de Monte Alegre (PI), mas não obteve sucesso.