O Brasil ainda comemorava o Globo de Ouro conquistado pela atriz Fernanda Torres por sua participação no filme “Ainda Estou Aqui” quando o CEO da Meta, Mark Zuckerberg escancarou apoio ao presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.
A parceria Trump-Zuckerberg foi determinante para a primeira vitória do Republicano em 2016. À época, o escândalo Cambridge Analytica revelou que a campanha de Trump utilizou dados confidenciais, originalmente disponibilizados para uso acadêmico, em ações de marketing digital.
De lá para cá, muitas políticas de proteção de dados e de combate a discursos de ódio foram implementadas por Zuckerberg, com o objetivo de aumentar a credibilidade de suas empresas e agradar à mídia, especialistas e usuários mais críticos das suas plataformas.
No Brasil, enquanto nas telonas o filme progressista de Walter Salles atrai grandes plateias, nas telinhas, na palma das mãos, Zuckerberg parece sinalizar que teremos um ambiente ainda mais polarizado e menos regulado nas principais redes do mundo – Instagram, Facebook e WhatsApp — todas comandadas pelo empresário americano.
Zuckerberg age como empresário. A regulação das redes sociais, já aprovada na União Europeia e em debate no Supremo Tribunal Federal do Brasil, representa grandes prejuízos para ele.
Aderir à moderação feita por pessoas, em diferentes idiomas e respeitando as leis dos países onde atua, significa para Zuckerberg um enorme investimento que, na prática, resulta em menos conteúdos livres (ou libertinos) circulando por suas plataformas.
Como especialista que é, Zuckerberg sabe que não existe rede social forte sem moderação. Quem tentou implementar uma liberdade irrestrita em suas plataformas viu-se refém de pornografia e propagandas indesejadas.
Nesse cenário, deixar a moderação de conteúdos nas mãos dos usuários e de alguns sistemas falhos é a alternativa mais econômica. E, neste momento, tal escolha ainda pode ser revestida por um discurso de direita e de uma pseudo liberdade de expressão.
Alguém com acesso ao vasto conjunto de dados do Instagram, do Facebook e do WhatsApp dificilmente tomaria decisões estratégicas como essas sem uma motivação clara. Zuckerberg talvez enxergue um futuro que nós ainda não percebemos.
Mas será esse futuro um espaço de maior liberdade e transparência para os usuários ou uma ampliação das sombras criadas por estratégias de manipulação, como as que marcaram campanhas dos republicanos nos Estados Unidos, dos defensores do Brexit no Reino Unido e do ditador Nicolás Maduro na Venezuela?
O que está em jogo não é apenas a dinâmica das redes sociais, mas a qualidade das interações humanas e a integridade da democracia. Cabe a nós observarmos, questionarmos e exigirmos que o futuro digital seja mais esclarecedor, como o filme “Ainda Estou Aqui”, do que obscuro, como os cenários políticos que ainda assombram nosso presente e ameaçam nosso futuro.