“Eu farei dez vezes, se for preciso. Eles não estão preparados”. A frase é do atacante Vini Jr., do Real Madrid, e foi publicada nas redes sociais quando soube que não ganharia o prêmio de melhor jogador do mundo da Fifa em 2024.
Naquele dia 28 de outubro, a assessoria de Vinícius confirmou que o próprio jogador havia publicado o texto no Twitter e que, para ele, a premiação não veio por causa da luta pessoal contra o racismo que travou durante todo o ano: “O mundo do futebol não está preparado para aceitar um jogador que luta contra o sistema”, concluíram.
Trinta e dois anos antes da polêmica do (não) prêmio envolvendo Vini. Jr, o poeta Jorge Aragão escrevera “Identidade”. A obra, que se confunde com um hino antirracista, faz parte de repertórios de rodas de samba Brasil afora desde seu lançamento.
Qualquer brasileiro entende o recado logo nos primeiros versos do sambista: “Elevador é quase um templo/ Exemplo pra minar seu sonho”/ …
Os versos seguintes apontam para o real objetivo da poesia: acabar com a distinção entre elevador “social” e “de serviço”. Diz a letra: “Não vai no ‘de serviço’/ Se o ‘social’ tem dono, não vai!”.
Para Jorge Aragão, naquele tempo, a separação deste espaço já era um claro sinal de racismo. Errado ele não estava. Afinal, em pleno 2024, foi necessária a criação de uma lei para acabar com os termos criticados pelo poeta há três décadas.
No último dia 4 de dezembro, a Câmara Legislativa aprovou uma lei, apresentada pelo deputado Max Maciel (Psol), que proíbe a utilização das denominações “elevador social” e “elevador de serviço” em prédios públicos e privados do Distrito Federal.
O texto da lei pretende “coibir qualquer tipo de discriminação”, além de “garantir a igualdade e dignidade a todos os trabalhadores, e proporcionar o dinamismo para o acesso a estabelecimentos privados”.
Leis como esta, e outras, como aquela que torna o Dia da Consciência Negra (20 de novembro) feriado nacional, infelizmente se fazem necessárias.
No Brasil, este ano, o Disque 100, plataforma oficial do Ministério do Desenvolvimento Humano, registrou 3.426 acusações do crime. E essa curva só tem subido desde 2020.
Pelo visto, se Vini Jr. ainda atuasse no Brasil, também correria o risco de passar pelo mesmo constrangimento que passou na Europa.
Uma tristeza, quando imaginamos que estamos próximos a concluir o primeiro ¼ do Século XXI da Era Cristã.