É o absurdo dos absurdos!, exclama a amiga ao me enviar um textão pelo zap sobre a votação, pela Câmara dos Deputados, do seguinte projeto: a partir do momento em que a lei for sancionada (já tem parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça da Casa), mesmo sendo uma menina de 12, 13 anos, será obrigada a ter o fIlho, mesmo em caso de estupro. Quanto ao estuprador, será reconhecido como pai.
Tirando a questão religiosa, que sempre radicaliza quando se discute – ampliando e politizando o tema do aborto – talvez seja necessário lembrar que este não é um problema moral. É de Estado e, por consequência, de saúde pública. Pelo menos enquanto este for um país laico.
Mas quem vai correr o risco de ter uma gestação complicada?, quem vai correr o risco no caso de uma anencefalia? Jamais as filhas de 12, 13 anos da classe média, pois estarão protegidas. Abortos no Rio ou em São Paulo continuarão a ser feitos.
Quem aproveita a religião para introduzir novas crenças – dogmas mesmo –, sabe que subverter o sentido das palavras é simples: basta meter na cabeça das pessoas que uma criança de 12, 13 anos tem o poder de seduzir um pedófilo. Esquecendo que o estupro normalmente ocorre em sua própria casa ou na de um aparentado.
Encerrando o assunto, duas pequenas linhas resumem tudo o que está dito no textão – de um jeito que não agradará a quem está convicto da justeza de tal Projeto. Criança não é mãe. Estuprador não é pai.