Desde que deixou o baixo clero da Câmara dos Deputados, no final da década passada, e se lançou na disputa presidencial, Jair Bolsonaro é reconhecido por sua grande militância digital. Durante seu governo, opositores tratavam essa força como “gabinete do ódio”. Agora, após indiciamento da Polícia Federal sob a acusação de articulação de um golpe de Estado, o nome atribuído é “milícia digital”.
E como essa tropa virtual reagiu às acusações da PF? Esta análise não pretende chegar a conclusões, mas apenas apresentar dados quantitativos e qualitativos de como o bolsonarismo reagiu ao indiciamento de seu líder. Vamos aos fatos:
No dia 21 de novembro, quando Jair Bolsonaro foi indiciado, o seu perfil no Instagram perdeu 2.778 seguidores. Na mesma data, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, perdeu 201 seguidores. No universo de milhões de internautas, o número pode não indicar grande prejuízo. Entretanto, Tarcísio e Bolsonaro não costumam ver sua popularidade digital cair. Tarcísio, por exemplo, ganhou mais de 17 mil seguidores nos últimos 30 dias.
Por outro lado, outros nomes que despontam como pré-candidatos à presidência da República em 2026, como os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil), também da direita, e Eduardo Leite (PSDB), da centro-direita, e Lula (PT), da esquerda, não perderam seguidores naquele dia. Ao contrário: ganharam.
Desde que foi indiciado, o desgaste de Jair Bolsonaro domina as redes sociais e a imprensa, embora aliados do ex-presidente tenham passado a defendê-lo, provavelmente seguindo orientações de profissionais de comunicação e marqueteiros.
A estratégia de bolsonaristas consistiu em deputados e senadores publicarem fotos ao lado de Bolsonaro, junto a textos exaltando sua honra e destacando proximidade pessoal. Exemplos disso são os posts do senador Jorge Seif (PL-SC); das deputadas federais Bia Kicis (PL-DF) e Caroline de Toni (PL-SC); e do ex-líder de Bolsonaro na Câmara, Major Vitor (PL-GO). Todos seguem o mesmo padrão.
Será que a estratégia surtiu efeito prático? Os textões levarão parlamentares a votarem pela anistia de Bolsonaro e de seus aliados presos pela tentativa de golpe e pela destruição das sedes dos três Poderes, em Brasília, no 8 de janeiro de 2023?
As respostas veremos nas cenas dos próximos capítulos. Mas se você trabalha com comunicação política, está aí uma análise (superficial, é verdade) de como foi tratada uma crise de imagem.