Por Tácido Rodrigues
Os Racionais MC’s, grupo de rap que conta a realidade de jovens negros e pobres das periferias, cantam que “desde cedo a mãe da gente fala assim: ‘filho, por você ser preto, você tem que ser duas vezes melhor’”.
Versos que explicam como o melhor jogador do mundo, pasmem, não ganhou o prêmio de melhor jogador do mundo. Uma palavra, sete letras: R-A-C-I-S-M-O.
A vida dele sempre foi desafio. Da infância pobre no Rio de Janeiro ao estrelato como jogador do Real Madrid, uma coisa nunca mudou: ele sempre foi sonhador. E é isso que o mantém vivo.
Quando pivete, seu sonho era ser jogador de futebol. Assim como o de milhões de brasileiros, que em muitos casos são obrigados a fazer uma escolha entre sonhar ou sobreviver.
Vini Jr. ousou sonhar. Diamante bruto da escolinha do Flamengo, cresceu rápido no clube do coração. Aos 16 anos, estreou no profissional ainda como uma jovem promessa. Desfilou o futebol por pouco tempo no Brasil e embarcou rumo à Espanha.
O conto de fadas virou pesadelo. Passou a ser alvo recorrente de cânticos racistas. Teve um boneco com seu rosto enforcado por “torcedores” rivais.
Ouviu do presidente da liga espanhola que deveria mudar seu comportamento em campo. Foi atacado até por um integrante de programa de TV, que disse a ele que parasse de “fazer macaquices”.
Mas o camisa 7 nunca abaixou a cabeça. Respondia dentro de campo com dribles, gols e comemorações.
Quando não recebeu apoio, nem do próprio clube, encarou os racistas de frente. Tocou na ferida e deixou claro que o preconceito no futebol não poderia passar impune.
A atitude corajosa gerou uma onda de solidariedade, mas também de ódio contra Vini Jr., reflexo da nossa atualidade. Esse é o espelho derradeiro da realidade.
O aprendizado foi duro. E mesmo diante desse revés, não parou de sonhar. Foi persistente. Usou sua popularidade em prol da igualdade racial, que vai muito além do esporte.
Em março deste ano, antes de um jogo da Seleção Brasileira, deu o recado ao mundo. “A cada dia, luto por todos que passam por isso. Se fosse só por mim e pela família, não sei se continuaria [jogando futebol]. Mas fui escolhido para defender uma causa bem importante e que eu estudo a cada dia para que no futuro meu irmão de cinco anos não passe pelo que estou passando”.
É evidente que o menino franzino de São Gonçalo merecia e deveria ganhar a Bola de Ouro. Os números não mentem. Os títulos saltam aos olhos. O Brasil estava ansioso por esse momento.
Mas Vinícius José Paixão de Oliveira Júnior representa muito mais que um troféu. Simboliza todos os garotos da quebrada que sonham em jogar futebol e precisam superar batalhas diariamente para chegar ao topo.
Resta a você, Vini, seguir em frente mais uma vez e continuar fazendo o que sabe de melhor: RESISTIR!