A dentista Talia Santiago, de 27 anos, encontrou em um site que parecia ser o oficial da loja Havan uma oferta irresistível da televisão dos seus sonhos. Animada com o preço atraente, no impulso efetuou a compra e fez o pagamento via Pix.
Mas rapidamente sua empolgação virou desespero, ao perceber que a página na internet era uma imitação. “Fiquei doida ao descobrir a fraude. Mas agi rápido. Consegui falar com o banco, fiz um boletim de ocorrência e consegui congelar o valor da conta e fazer o estorno”.
Essa ação imediata foi essencial porque não deu tempo para o golpista transferir o dinheiro para outra conta, permitindo ao banco bloquear a transação e reverter o pagamento.
Talia não é um caso isolado. Os golpes digitais se tornaram uma ameaça a todos os cidadãos conectados à Internet. Junto com os benefícios trazidos pela era digital, a rede também abriu portas para uma nova onda de fraudes online.
E a Inteligência Artificial (IA) facilita a prática de golpes, ao criar formas cada vez mais sofisticadas e convincentes de ludibriar os usuários. Algoritmos avançados geram mensagens falsas, e-mails phishing e sites fraudulentos que imitam com precisão instituições legítimas, tornando difícil para as pessoas distinguir entre o verdadeiro e o falso.
Armadilhas
A armadilha do preço atraente também capturou o engenheiro de software André Newton, de 37 anos. Ao tentar comprar uma placa de vídeo online, encontrou um anúncio com preço muito atrativo no Mercado Livre. Devido à urgência, foi direcionado a realizar a transação via WhatsApp.
“A pessoa me disse que precisava de um depósito antecipado para enviar o produto”, explica Newton, ressaltando a pressão do “vendedor” para que ele efetuasse o pagamento rapidamente. O golpista apresentou documentos falsos e forneceu um endereço e fotos aparentemente autênticos. Mas desapareceu após a transferência do dinheiro.
“Fiquei tentando validar a transação sem perceber que os documentos eram falsificados. Quando finalmente obtive uma resposta, o golpista revelou que o dinheiro seria movimentado entre várias contas para dificultar o rastreamento. E me disse que o dinheiro seria dividido e movimentado entre várias contas para que a polícia não pudesse encontrar”, relatou Newton, que registrou a ocorrência na Polícia Civil.
Parcelamento de dívidas
A empresária Naide Leal, de 59 anos, sofreu dois golpes financeiros. O primeiro foi uma falsa comunicação sobre o MEI, alegando que seu CNPJ seria cancelado devido a parcelas em atraso e pedindo R$ 490 para regularizar a situação.
“Eles disseram que poderiam fazer um parcelamento, e que eu precisava pagar no mesmo dia, para evitar o cancelamento. No entanto, após o pagamento, o link se tornou inacessível e o contato desapareceu. Quando percebi que o link não funcionava e que a pessoa havia sumido, procurei um contador, e ele descobriu que o parcelamento não estava registrado na Receita Federal”.
O segundo golpe foi uma falsa proposta de parcelamento do IPVA e licenciamento do veículo. Ela pagou R$ 1.300, mas depois descobriu que a quitação não foi registrada. “Nem sei para quem paguei”, lamenta Naide, que agora recomenda aos amigos e parentes cautela com comunicações inesperadas. “É importante verificar a veracidade das informações com os órgãos competentes”, ensina.
Dinheiro esquecido na conta
O golpe do “dinheiro esquecido” envolve sites que prometem devolver valores não resgatados pelo governo. Eles atraem vítimas com anúncios como “o governo ainda não devolveu nem 30% do dinheiro esquecido”. Ao clicar em “Verificar Agora Mesmo”, o usuário é direcionado a páginas falsas que imitam o Gov.BR e são solicitadas taxas de R$ 64,00.
Para não cair nessa arapuca, acesse o site oficial do Gov.BR e procure por “Devolução de dinheiro esquecido”. O Banco Central é o único responsável por essas devoluções, e o Gov.BR não cobra taxas. Cuidado com contatos via WhatsApp ou solicitações de pagamento, pois são fraudes.
“Golpe 0800”
O “golpe 0800” tem mais de 4 mil ocorrências por hora. Criminosos se fazem passar por funcionários de bancos para obter dados pessoais. Para evitá-lo, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) está desenvolvendo o sistema “Origem Verificada”, que identificará a origem de chamadas desconhecidas usando um banco de dados de contatos de empresas.
A ferramenta confirma a origem das ligações feitas por empresas cadastradas, como bancos, empresas de investimentos e outras. A medida visa aumentar a segurança contra as fraudes e reduzir as chamadas indesejadas. O sistema será oficialmente lançado em outubro.
A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal recomenda que, em caso de fraude, o cidadão procure a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos da Polícia Civil. A DRCC é especializada na investigação de crimes cibernéticos e oferece suporte para garantir a segurança digital. A PCDF também disponibiliza cartilhas e folders com orientações úteis para prevenir golpes e fraudes online, acessíveis no site. Para registrar ocorrências, basta acessar pelo site . A SSP e a PCDF orientam as vítimas a não hesitarem em buscar ajuda especializada em casos de suspeitas ou ocorrências de fraudes.