Alegria de pobre dura pouco, diz o antigo adágio popular. E ele parece se confirmar em relação ao governo Lula 3. Quando tudo parece andar para dias melhores, surge um Maduro (quase podre) no meio do caminho. No domingo (28), Lula ocupou uma rede nacional de rádio e TV para falar dos avanços que o Brasil obteve nos primeiros 18 meses da atual gestão – e foram muitos, especialmente na área social. Mas, horas depois, ao se autoproclamar presidente reeleito da República Bolivariana da Venezuela, o aliado Nicolás Maduro deu o mote para ofuscar o brilho da fala de Lula, enredando o petista numa polêmica na qual ele e o Brasil não têm nada a ganhar.
Ao falar à Nação em horário nobre (antes do Fantástico da Globo), Lula se esmerou em mostrar as ações dos primeiros 18 meses do governo. Na fala de sete minutos, gravada na sexta-feira (26), o petista destacou o aumento real do salário mínimo acima da inflação, a volta da Farmácia Popular e o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Responsabilidade fiscal
O principal ponto do pronunciamento foi de que o Brasil não abrirá mão da responsabilidade fiscal. “Entre as muitas lições de vida que recebi de minha mãe, dona Lindu, aprendi a não gastar mais do que ganho. É essa responsabilidade que está nos permitindo ajudar a população do Rio Grande do Sul com recursos federais. Aprovamos uma reforma tributária que vai descomplicar a economia e reduzir o preço dos alimentos e produtos essenciais, inclusive a carne”. Mas a primeira lembrança foi a tentativa de golpe oito dias após sua posse, em janeiro de 2023. “A democracia venceu”, reforçou.
Destruição
Na sua prestação de contas, Lula recordou que, há 14 anos, quando entregou o governo para sua correligionária Dilma Rousseff, a economia crescia mais de 4% ao ano. A geração de empregos, o salário e a renda das famílias aumentavam, a inflação caía e o Brasil estava fora do mapa da fome. “De lá para cá, assistimos a uma enorme destruição no nosso país”.
Armas e fome
Lula enumerou a retomada de programas como a Farmácia Popular e o Minha Casa Minha Vida. Lamentou o corte de recursos da educação, do SUS e do meio ambiente. “Espalharam armas ao invés de empregos. Trouxeram a fome de volta. Deixaram a maior taxa de juros do planeta. A inflação disparou e atingiu 8,25%”.
Salário e emprego
Na sequência, Lula citou aumentos salariais para 90% das categorias profissionais, a igualdade salarial entre homens e mulheres e a geração de 2,7 milhões de empregos – a taxa de desemprego é a menor em 10 anos.
Saúde e Educação
Na Saúde, destacou a valorização do SUS, a volta do Farmácia Popular, o incremento da lista de medicamentos distribuídos de graça e o do programa Mais Médicos. Na Educação, citou a ampliação do número de vagas nas creches, dos recursos para as universidades e a abertura de 100 novos Institutos Federais.
Civilização e obras
Lula discorreu, ainda, sobre à proteção ao meio ambiente e dos direitos das mulheres, do povo negro, dos indígenas, das pessoas com deficiência e LGBTQIA+. “O Brasil se reencontrou com a civilização”, disse o presidente, citando, também, investimentos para obras de infraestrutura, ferrovias, rodovias, energia, drenagem e prevenção de riscos, policlínicas, creches e escolas.
Fraternidade x ódio
O presidente brasileiro concluiu o balanço destacando o fim da estagnação da indústria nacional, a valorização das matrizes de energia limpa e a vinda da COP-30 para Belém-PA. “O que falta ao mundo é paz, solidariedade e humanismo. Estamos prontos para dar o exemplo de que, no Brasil, a inclusão social, a fraternidade, o respeito e o amor são capazes de vencer o ódio”, concluiu.
Maduro: a pedra no sapato
Suspeita de fraude na reeleição do venezuelano para o 3º mandato ofusca pronunciamento e põe o presidente brasileiro em saia justa no cenário geopolítico internacional
O esforço do governo brasileiro de mostrar suas realizações ficou ofuscado 5 horas depois. À uma hora da madrugada de segunda-feira (29), o aliado Nicolás Maduro também usou os meios de comunicação para anunciar ao mundo que havia sido reeleito para seu terceiro mandado presidencial na República Bolivariana da Venezuela, com apenas 80% dos votos apurados.
O resultado foi contestado pela oposição e questionado por diversos países. Brasil, México e Colômbia cobraram a publicação dos boletins de urnas para reconhecer a vitória de Maduro – o que não ocorreu (leia Júlio Miragaya na página 4). Tido como ditador por grande parte da mídia, Maduro acabou arrastando Lula para seu cadafalso. E o pronunciamento otimista do presidente brasileiro ficou em segundo plano.
Nota do PT
E a situação ficou ainda mais complicada para Lula após a publicação de uma nota da Executiva Nacional do PT parabenizando Maduro pela vitória.
Nota da Executiva Nacional do PT sobre eleições na Venezuela
“O PT saúda o povo venezuelano pelo processo eleitoral ocorrido no domingo (28), em uma jornada pacífica, democrática e soberana. Temos a certeza de que o Conselho Nacional Eleitoral, que apontou a vitória do presidente Nicolas Maduro, dará tratamento respeitoso para todos os recursos que receba, nos prazos e nos termos previstos na Constituição da República Bolivariana da Venezuela.
“Importante que o presidente Nicolas Maduro, agora reeleito, continue o diálogo com a oposição, no sentido de superar os graves problemas da Venezuela, em grande medida causados por sanções ilegais.
“O PT seguirá vigilante para contribuir, na medida de suas forças, para que os problemas da América Latina e Caribe sejam tratados pelos povos da nossa região, sem nenhum tipo de violência e ingerência externa.
Executiva Nacional do PT”