Antes de falar do poder do algoritmo, deixo duas definições dessa palavra, segundo o dicionário Oxford:
– Matemática: sequência finita de regras, raciocínios ou operações que, aplicada a um número finito de dados, permite solucionar classes semelhantes de problemas.
– Informática: conjunto das regras e procedimentos lógicos perfeitamente definidos que levam à solução de um problema em um número finito de etapas.
As redes sociais, como sabemos, trabalham o algoritmo a partir da segunda definição, para que cada vez mais ele sugira conteúdos relacionados com aquilo que você provavelmente gostará de ouvir, assistir ou consumir.
O problema é que isso causa fenômenos como “filtros de bolha”. O termo criado pelo cofundador do famoso site Avaaz.org, Eli Pariser, define que os usuários ficam menos expostos a pontos de vista conflitantes.
Ou seja, consomem somente aquilo que possui afinidade com suas crenças, o que está diretamente ligado à polarização política que testemunhamos no mundo todo.
Na prática, um bolsonarista dificilmente receberá notícias positivas do governo Lula. Ou, nos Estados Unidos, um republicano não terá em suas redes sociais boas realizações do democrata Joe Biden.
Do mesmo modo, receberão conteúdos contrários aos seus opositores, colocando lenha na fogueira do ódio ao adversário. E aí, atentados como a facada em Jair Bolsonaro, no Brasil, e o tiro em Donald Trump, nos EUA, podem estar diretamente ligados ao algoritmo.
Pagodes negacionistas no Spotify
Entretanto, a novidade da semana envolve o algoritmo do Spotify. Segundo matéria publicada no Intercept, no dia 16 de julho, a mais famosa plataforma de streaming de áudio passou a recomendar “pagodes negacionistas” para seus usuários.
No Spotify, há possibilidade de o próprio aplicativo sugerir músicas com as quais você teria afinidade. E é aí que mora o perigo. Nos últimos dias, conversei com usuários que foram recomendados a ouvir sambas que dizem, entre outras: “Ninguém mais pode desconfiar das urnas, virou um crime na nossa Nação”.
As plataformas têm o poder de aumentar a relevância daquilo a que elas querem dar destaque. Ocorre que, com isso, ficamos nas mãos de empresas privadas. E empresas têm donos. E donos que têm posicionamentos políticos.
Quem não se lembra da polêmica entre Elon Musk (dono do Twitter) e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes? Musk anunciou, no último dia 16, que doará US$ 45 milhões por mês à campanha de Trump à Casa Branca.
O Spotify pode mudar o algoritmo de recomendação dos usuários e convencê-los de certas ideias através da música, como fizeram, na história recente, para o bem do Brasil, artistas como Chico Buarque e Caetano Veloso em suas canções contra a ditadura miliar.
Aproveitando o ensejo, sugiro que assistam o documentário sobre Chico Buarque na Netflix. Ali, pode-se perceber como a música tem poder de convencimento, numa época em que não existia algoritmo e o convencimento se dava no campo das ideias.
A outra dica é que se o caro leitor gostar da mistura de samba com política, pode seguir o autor deste texto no Instagram. Lá, uso dos conhecimentos de marketing político e de samba para fazer paródias sobre meu trabalho.
Aposto que você vai gostar!