Taguatinga se transforma, cada vez mais, numa “passagem” para Ceilândia, Samambaia, Brazlândia, Guará, Vicente Pires e, claro, para o Plano Piloto. Desde a adoção da “mão única” nas avenidas Comercial e Samdu, em 2016 (na Comercial trafega-se no sentido Norte-Sul e na Samdu no sentido inverso), esta lógica tem prevalecido em outros pontos da cidade.
A regra já vale em várias pistas internas dos setores CSB e CNB e nas ligações da Samdu com a Comercial Norte e vice-versa. Também prevalece na tradicional Praça do D.I. e, mais recentemente, foram criadas restrições para estacionamento e na área central, com o advento do túnel Rei Pelé.
O maior prejudicado com essas mudanças é o comércio. Segundo o presidente da Associação Comercial e Industrial de Taguatinga (Acit), Justo Magalhães (foto), os lojistas estão virando meros espectadores do desfile de ônibus e automóveis.
“O transporte coletivo, muitas vezes, passa na porta das lojas e os veículos particulares transitam em alta velocidade ou em engarrafamentos enfadonhos. Mas, por falta de vagas, ninguém para. E os funcionários ficam ‘matando mosca dentro das lojas’”, afirma Magalhães.
A última alteração promovida pelo Departamento de Trânsito (Detran-DF) começou a vigorar na segunda-feira (29). A pista dos fundos da C-8, quadra em frente à Praça do Relógio e à própria Administração Regional, passou a ter duas faixas de rolamento para quem desce do Pistão Sul para a Comercial (como era antes) e duas da Comercial Sul para o Pistão Sul.
Esta mudança facilita o acesso de quem está na Comercial e pretende chegar às QNAs ou CSAs. No entanto, mais uma vez, o prejuízo recaiu nos ombros (e nos bolsos) dos comerciantes.
Ocorre que a faixa da direita, ao longo do meio-fio, do lado residencial, era usada como estacionamento. Com a nova engenharia, foram suprimidas cerca de 50 vagas. Ou seja, vai ter mais carros em trânsito em frente às lojas e menos clientes consumindo.
O dono da Lanchonete do Júlio, tradicional ponto de encontro na C-8 para quem gosta de pastel frito na hora acompanhado de caldo de cana ou vitamina de frutas, se revoltou com a medida e gravou pelo menos três vídeos para as redes sociais.
Dirigindo-se ao administrador Bispo Renato Andrade, Júlio Leonardo (foto) reclama da extinção das vagas de estacionamentos e da ação do Detran, que passou a fiscalizar a área para impedir que motoristas deixem o carro no local, conforme determina a sinalização recém-instalada.
Bispo Renato Andrade (foto) respondeu ao Brasília Capital que tudo foi feito em consenso com os próprios comerciantes. “Realizamos reuniões com a presença de dezenas de empresários e estamos executando exatamente o que nos foi solicitado, por unanimidade, que era o acesso de quem está na Comercial Sul à pista de trás da C-8”, diz Bispo Renato.
Porém, assim como Júlio Leonardo, o cabeleireiro Guaraci Alves (foto), da Garb Barbearia, rebate. Segundo ele, o entendimento do grupo era de que a nova manobra não incluísse a extinção dos estacionamentos. “Uma pista única resolve o trânsito. O fechamento das vagas prejudica todo mundo”, argumentam os dois.
Solução seria a criação de vagas rotativas
Se a nova medida teve o condão de desagradar a todos – uns por serem prejudicados e outros por, supostamente, terem sido mal interpretados ou terem entendido errado o que lhes foi solicitado –, há uma solução que agrada à imensa maioria: a criação de vagas rotativas de estacionamentos e de bolsões públicos para quem preferir deixar o carro um pouco distante e não pagar por isso.
“É imprescindível e inadiável a implantação do sistema rotativo de vagas não só no centro como também na Comercial, na Samdu e no DI. É a única solução para evitar o estrangulamento do comércio e que Taguatinga se transforme em mera passagem para outras cidades“, afirma o presidente da Acit. Ele lembra que esta reivindicação vem sendo feita há mais de 20 anos, inclusive em governos passados, e jamais foi atendida pelo Detran.
A ideia é apoiada pelo próprio administrador regional e já ganhou um defensor na Câmara Legislativa. O deputado Eduardo Pedrosa (União Brasil/foto) colocou seu gabinete à disposição da comunidade taguatinguense para debater o tema e encontrar a melhor saída para o problema.
“O Distrito Federal tem 1,3 habitantes para cada veículo registrado no Detran (Dados de 2016), uma das maiores médias do País. Portanto, é fundamental ouvir a população e buscar alternativas que facilitem a vida de quem usa carro, mas também não prejudiquem a economia local, especialmente o comércio”, avalia o parlamentar.
Detran diz que atendeu comerciantes. E vai multar
Procurada pelo Brasília Capital, a assessoria do Detran encaminhou o release (texto-base para a imprensa) sobre as alterações feitas no trânsito de Taguatinga centro a partir de domingo (28), conforme mostra a reportagem. E reitera que, após a finalização das obras do Túnel Rei Pelé, a circulação em dois sentidos foi restabelecida a pedido dos comerciantes locais.
A autarquia garante que os agentes de trânsito, painéis de mensagens e outras sinalizações no local são para indicar o fluxo correto para o tráfego de veículos. E recomenda aos condutores atenção redobrada no trecho a fim de evitar ocorrências (multas) de trânsito. Quanto à adoção estacionamentos rotativos, disse que a responsabilidade é da Secretaria de Mobilidade.
Zona Verde
A Semob respondeu que o projeto de Transporte e Mobilidade (Zona Verde) prevê a gestão de cerca de 115 mil vagas de estacionamento, em sistema rotativo, com a criação de aproximadamente 6 mil novas vagas em diversos pontos do DF. A pasta esclarece que foram realizados todos os estudos de viabilidade para a concessão de estacionamentos rotativos e audiência e consulta públicas relativas ao tema. O projeto está em análise no Tribunal de Contas do DF, antes de a Semob seguir com a licitação.