José Carlos Barroso (*)
O que será de nós, pobres mortais, amigos e parceiros de tantas lutas e jornadas, a partir desta semana, que começou com uma segunda-feira de sabor amargo, travoso e travado, depois da inacreditável notícia do falecimento do jornalista, escritor, cronista e crítico musical Paulo Pestana, na madrugada do interminável 11 de março de 2024?
Perguntar não ofende. Mas, há certas perguntas que pairam no ar com o peso de nuvens de chumbo, carregadas pelas águas de março… e que são verdadeiros desafios à nossa frágil razão de existir.
Afinal, existirmos, a que será que se destina…? Pergunta o compositor Caetano Veloso, em sua magistral Cajuína. Um questionamento poético, sensível, que nos coloca em plena reflexão, às vezes perturbadora, do verdadeiro sentido e finalidade da existência, sendo a vida tão efêmera.
Há razões de sobra, no plano divino e dos homens, para a existência de uma figura tão ímpar como a de Paulo Pestana, em sua curta mas profícua passagem por essas paradas, nas quais tivemos o privilégio de estar em boa parte dos seus pouco mais de 66 anos.
Razões de existência não apenas para seus familiares, amigos e conhecidos. Também para as dezenas de pessoas que foram por ele ajudadas de alguma forma e em algum momento. Para milhares de leitores de seus textos impecáveis, crônicas deslumbrantes pelas quais viajávamos todos por uma Brasília fantástica, esmiuçada em seu dia a dia, no mundo das artes e da cultura.
Amanhecemos nesta segunda-feira com a sensação estranha, sentindo-nos menores, vivendo em um mundo apertado, insosso, estranho, desarrumado…
Todo mundo perguntando para todo mundo se aquilo tudo era verdade, como se ninguém acreditasse em ninguém, torcendo e rezando para que nada estivesse acontecendo. Não passasse de um pesadelo.
Paulo Pestana chegou em Brasília no mesmo ano que por aqui aportei. Ambos trazendo na mochila muitos sonhos e um caminhão de esperanças. Era 1973, ano de uma década tão intensa no plano político e cultural.
Fomos nos conhecendo e nos aproximando, cada vez mais, graças ao jornalismo, a paixão pela música e o gosto pelas crônicas. Aproximação essa que foi sempre regada por momentos boêmios no Butiquim do Tuim (Quituart, do Lago Norte), por algumas festas em comum e, durante alguns anos, por trabalho, também, que ninguém é de ferro…
Foram muitas palavras jogadas fora. E outras tantas agasalhadas, com muito carinho e respeito, na mente, no coração e na alma. Palavras sábias, equilibradas, marcadas pela leveza e bom-humor. É o que importa nessa vida tão efêmera: amizade.
Quando é assim, nesse tom e nessa harmonia musical, existir vale a pena. Mesmo quando, no meio da jornada, alguns dos amigos nos deixem por um lugar desconhecido, cheio de mistérios, mas onde encontrarão outros tantos companheiros que se foram antes do combinado.
RIP, Paulo Pestana! Inté a próxima.
(*) Jornalista, escritor e editor ZecaBlog –