Brasília só vai ter eleições em 2026, mas nem por isso a classe política relaxa. Afinal, quem não é visto, não é lembrado, diz o velho ditado. E esse é um lema em que os políticos não tergiversam. E o período de férias e de recesso parlamentar é importante para aqueles que necessitam de visibilidade pública. Para não correr riscos, eles investem na busca de se manter em evidência, embora, às vezes, de forma temerária.
A primeira-dama Mayara Noronha, que curte a passagem de ano na Florida com o governador Ibaneis, é capa da revista Plano B. Já na abertura do texto da publicação impressa e que diz ter milhares de visualizações na Internet, além de compartilhamentos nas redes sociais, são lembradas “as especulações sobre os planos na política” de Mayara.
Cinco páginas internas são dedicadas à ex-secretária de Desenvolvimento Social, apresentada como idealizadora do maior programa de segurança alimentar do Brasil. Certamente, os editores da publicação não ouviram falar do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que concebeu e dedicou-se ao projeto Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, lançado em 1993.
Somente no período da pandemia de covid-19, quase 30 anos depois de criada por Betinho, a Ação da Cidadania arrecadou mais de R$ 98 milhões, distribuiu mais de 19 milhões de quilos de alimentos e alcançou mais de 7,8 milhões de pessoas em todo o Brasil.
Também não ouviram falar do nutrólogo Josué de Castro, que presidiu a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e elaborou as bases dos programas de combate à fome no nosso País.
Com “Geografia da Fome”, clássico da ciência brasileira, lançado em 1946, ele tirou da obscuridade o quadro trágico da fome no País. Em 1951, em outro clássico, “Geopolítica da Fome”, Josué de Castro demonstrou as equivocadas crenças culturais e políticas referentes à fome no Brasil.
Ao falar dos êxitos dos restaurantes populares, os chamados Rorizões, a entrevistada também não menciona o criador do projeto, o falecido ex-governador Joaquim Roriz. Mas Mayara lembrou que está recebendo vários convites para ingressar na política e que decidirá que rumo tomará ao longo de 2024.
O deputado distrital Robério Negreiros (PSD) também resolveu investir em divulgação para se manter em evidência. O parlamentar, que está em seu quarto mandato, usou uma revista própria para informar que “se dedicou integralmente à defesa da população”.
Prestação de contas
A publicação intitulada “Robério Negreiros – Balanço 2023”, traz, em 24 páginas, 21 fotos do parlamentar. Imagens, textos e legendas têm o propósito de fazer a prestação de contas do mandato, mas fica evidente o desrespeito ao artigo 37 da Constituição Federal pelo qual:
“A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos”.
O expediente informa que a revista foi elaborada pela assessoria de imprensa do gabinete parlamentar, que é paga com recursos públicos. Segundo a revista, investir em Educação Púbica não foi prioridade para o líder do Governo na Câmara Legislativa.
Em 2023, a principal destinação das emendas parlamentares de Negreiros foi infraestrutura (rodovias, viadutos etc.), que recebeu R$ 11,9 milhões. Cultura (R$ 3,1 milhões) e Esportes (R$ 3 milhões) aparecem em seguida. Em quarto lugar, ficou a Saúde Pública (R$ 2,5 milhões). Geração de Empregos (R$ 1,5 milhão) e Turismo (1,2 milhão) fecham o gráfico divulgado pelo distrital.
Detalhe destacado pela própria publicação: R$ 150 mil em emendas foram destinadas a ações de adoção responsável de pets. Porém, para escolas, nada foi citado.