“Livre-se do estresse e da pressão, aproveite seu tempo livre enquanto cuidamos de tudo para você. Entre em contato e conquiste o diploma dos seus sonhos!”. É o que promete, no Facebook, anúncio de uma “consultoria acadêmica” para estudantes de graduação e pós em fim de curso.
Para universitários, essa é a hora de mostrar o que realmente aprenderam ao longo do ano ou mesmo de todo o curso de bacharelado ou pós-graduação. Antes de mergulhar nas férias de verão, os formandos têm que entregar e defender perante uma banca o Trabalho de Conclusão de Curso – o famoso TCC.
Se o aluno é de pós-graduação, lhe será exigido uma dissertação ou tese. Trabalhos bem mais elaborados. Mas,o que deveria ser o momento de mostrar a qualidade de cada um, vem se tornando um espaço para plágio e até mesmo para fraude. Cada vez mais, é fácil encontrar quem se ofereça a fazer o trabalho acadêmico, em troca, claro, de uma boa paga.
“A elaboração do TCC é a oportunidade para o estudante demonstrar suas habilidades de pesquisa, pensamento crítico e capacidade de comunicação, fundamentais para o desenvolvimento profissional e pessoal”, diz a professora Fátima Sousa, da UnB.
Para a professora Janda Cunha, que lecionou no Departamento de Letras da UnB, a dificuldade de universitários em fazer trabalhos acadêmicos decorre da eliminação nos currículos da disciplina Metodologia Científica, que ensinava o estudante a fazer pesquisas cientificamente corretas e a redigir artigos.
Fraude
“Considero uma fraude, um desrespeito à atividade acadêmica. É razão para reprovação pura e simples. E até a imposição de sanções civis aos beneficiários e aos que ofertam e vendem esse tipo de serviço”, completa Paulo José Cunha, professor de Jornalismo na mesma instituição.
E ele tem razão. Segundo o delegado aposentado da Polícia Civil do DF, Miguel Lucena, essa prática configura falsidade ideológica. Pode dar cadeia de um a cinco anos; multa, se o documento for público; e reclusão de um a três anos. A pena sobe em um sexto se quem pratica a fraude for um servidor púbico.
Na Universidade de Brasília, casos de plágio em trabalhos finais (TCCs, dissertações e teses) podem resultar no desligamento ou, quando se trata de egressos, à cassação do título obtido. Mas o chefe de gabinete da Reitoria, Professor Paulo César, diz não ter conhecimento de casos identificados como de compra e/ou venda de conteúdos na instituição.
“O Rei 👑 DO TCC”
Nas redes sociais, em grupos não institucionais identificados com nomes de universidades e faculdades –existem até mesmo os que usam o nome da UnB –, há anúncios de “assessoria escrita e consultoria acadêmica”. Tem até o “O Rei 👑 DO TCC”. “Redator profissional a(sic) mais de 10 anos. Sem firulas, sem enrolação, preço justo”.
“Trabalho de qualidade, original e personalizado, feito por especialistas na área”, promete outro. Por assessoria escrita, como os próprios anúncios esclarecem, está a produção de TCC, monografia, artigo científico, dissertações de mestrado, tese de doutorado, projeto de pesquisa, projeto de mestrado. O cardápio é amplo e abriga dezesseis opções, inclusive para professores:“formatação de provas”.
A compra de trabalhos de conclusão de cursos não é nova, mas é cada vez mais presente. “Numa boa universidade, esse tipo de picaretagem pode ser rapidamente rastreado”, salienta o professor de Arquitetura da UnB, Frederico Flósculo.
“Há ferramentas disponíveis para auxiliar nesse processo, como softwares de detecção de plágio”, emenda Fátima Sousa. É uma briga de gato e rato, para escapar às pericias das bancas. Há casos de “maquiagem da fraude”. “Eles estão se sofisticando e reformulam o trabalho comprado introduzindo um toque mais pessoal, diminuindo as chances de suspeição”, explica Flósculo.“Alunos que compram trabalho estão pagando pelo que não aprenderam e jamais aprenderão”, frisa Janda Cunha.
“Assessoria” e “consultoria” acadêmica
As ofertas são divulgadas como “assessoria” e “consultoria” acadêmica. Algumas delimitam os campos do conhecimento. Uma consultoria se diz especializada em Direito, Administração, Comunicação Social, Ciências Contábeis e Educação. Há quem garanta “relatório antiplagio” e “500% de aprovação”.
Nas redes sociais tem telefones para contato. Todos de fora de Brasília. Tem DDD do Norte Fluminense (22), da grande Belo Horizonte (31), de Mato Grosso (65), da Paraíba (83), do Piauí (86) e de Belém do Pará (91).
Flósculo teme que, com o advento da inteligência artificial, a ocorrência de trabalhos acadêmicos feitos por outrem cresça e fique mais sofisticado. “No lugar de comprar um TCC de um redator externo, terá quem opere os sites de inteligência artificial para construir textos a partir de diferentes autores. A pesquisa será feita pelo software e não pelo universitário. Aí, cabe o olhar mais severo do professor orientador”.