“Muito obrigado a todos que colaboraram e mandaram Pix de um centavo a 20 reais. O que menos importa é o valor. Vai dar para pagar todas as multas e ainda sobra um dinheirinho para tomar um caldo de cana com um pastel, aqui com dona Michelle”.
Ex-presidente arrecada R$ 17,2 milhões, via Pix, não paga multas e esnoba os doadores:
Ao apelar para o emocional de sua base de fanáticos com uma campanha de arrecadação, via Pix, para pagar as diversas condenações judiciais que tem sofrido, Jair Bolsonaro (PL) conseguiu arrecadar, de janeiro a julho, uma quantia milionária, que passou pelo escrutínio do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF).
E o dinheiro já está rendendo R$ 5 mil ao dia para o ex-presidente em aplicação no CDB. Deve ser com esse rendimento que o ex-presidente pretende pagar o caldo de cana com pastel para a ex-primeira-dama, Michele, conforme ele mesmo sugeriu em um vídeo divulgado nas redes sociais, onde, de forma irônica, agradece a todos os apoiadores que lhe enviaram quantias de R$ 1 a R$ 20 mil.
O total arrecadado impressiona: R$ 17,2 milhões, praticamente um prêmio da Mega Sena, que saíram dos bolsos do bolsomínios em transferências registradas para a conta de Bolsonaro, resultado de cerca de 770 mil transações feitas por apoiadores e aliados.
O relatório do controlador de operações financeiras ainda revelou que, entre as centenas de milhares de doações, 18 pessoas foram incrivelmente “generosos” com o ex-presidente e fizeram transferências de R$ 5 mil e R$ 20 mil. Três empresas também aderiram à campanha. Uma delas realizou 62 transferências que somaram quase R$ 10 mil.
Bolsonaro alega que vem sofrendo “assédio judicial” por parte dos tribunais. Em um desses processos, o ex-presidente teve cerca de R$ 500 mil bloqueados pela Justiça paulista, em razão da execução da multa por descumprimento de medida sanitária durante a epidemia de covid-19, em ato realizado em 7 de setembro de 2021.
Somando às outras seis multas recebidas em São Paulo, a dívida de Bolsonaro fica em torno de R$ 1 milhão. Porém, apesar de ter arrecadado 17 vezes esse valor com “doações espontâneas”, o ex-presidente não quitou as dívidas junto à Secretaria de Saúde estadual. O que é, no mínimo, estranho, se for levado em consideração que ele pleiteou as doações justamente para quitar essas dívidas judiciais.
Lavagem – O grande volume de transações (quase 800 mil) poderia tranquilamente mascarar transferências com vieses pouco republicanos para Bolsonaro, e atribuir alguma legitimidade a valores com origens não tão legítimas assim, o que, no popular, chama-se lavagem de dinheiro. Cabe às autoridades financeiras realizar os cruzamentos de dados entre os valores e apoiadores.
Algumas informações apontam que o ex-presidente aplicou pelo menos R$ 17 milhões do valor arrecadado em CDBs. Inesperadamente cauteloso, Bolsonaro tem se esquivado de falar sobre essa meteórica arrecadação para o custeio de suas condenações judiciais. Segundo ele, tudo foi “voluntário”.
Bolsonaro promete acionar judicialmente os responsáveis pelo vazamento das informações solicitadas pela CPMI, no que ele e seus filhos rotularam como “assassinato de reputação”.
Resta aguardar para ver se a divulgação das doações, ou a descoberta de algum estratagema irregular para dar legitimidade a recursos de origem duvidosa, será o que irá terminar de desqualificar a reputação (que já não anda lá essas coisas há tempos) do ex-presidente.