Armazém Companhia de Teatro transita entre o drama e a comédia em novo espetáculo, que tem na cenografia potente diferencial ao criar realidade pictórica em cena. Vigoroso trabalho corporal do elenco, uma das marcas da companhia em seus 28 anos, também se destaca na montagem. A encenação explora com acidez o avesso de relações familiares em primeiro texto original de Paulo de Moraes e Jopa Moraes. Narrativa põe em cena um barco de 10 metros. A peça faz temporada no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (CCBB)
Quando sobe o pano, mãe e três filhos remam num lago. Parece que vai chover, mas eles seguem rumo às profundezas de relações delicadas da família. A beleza da imagem sugere até uma pintura. A sincronia deles ao remar destoa da realidade convulsiva de cada um, desde que o pai morreu. Um barco real de madeira, de quase 10 metros, marca a impactante abertura de Inútil a Chuva, novo trabalho do Armazém Companhia de Teatro que faz curta temporada de 27 a 30 de outubro de 2016, no CCBB Brasília, de quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 19h. Trata-se do primeiro texto com dramaturgia assinada por Jopa Moraes e Paulo de Moraes, este último também diretor. O Armazém Companhia de Teatro é patrocinado pela Petrobras.
Inútil a Chuva se orienta em torno do desaparecimento do pai desta família, pintor que se torna high light no milionário mercado de arte após a morte. E que morre simplesmente desaparecendo. Com iluminação assinada por Maneco Quinderé, figurinos de Rita Murtinho e direção musical de Ricco Viana, o espetáculo surpreende o espectador evocando a cada cena a formação de uma série de imagens que remetem a pinturas em movimento. Estão no elenco Patrícia Selonk, Andressa Lameu, Leonardo Hinckel, Tomás Braune, Marcos Martins e Lisa Eiras.
A estreia de Inútil a Chuva foi no Rio de Janeiro em 2015. O espetáculo foi indicado aos Prêmios Shell, APTR e Cesgranrio nas categorias Melhor Cenografia (Paulo de Moraes e Carla Berri) e Iluminação (Maneco Quinderé). Este ano, o Armazém Companhia de Teatro completa 29 anos de trabalho continuado.
A trama
Por ironia do destino, após o desaparecimento, a obra do pai e pintor começa a ser reconhecida. Após sumir do mapa, seus quadros passam a valer milhões. O sujeito passa a ser considerado um gênio, a nova estrela da arte contemporânea. A discussão é clássica: qual o sentido da arte quando a arte não deve nada a ninguém? Uma boa provocação sobre o mundo das artes, sua inutilidade e valor econômico, através de um sujeito que passa a vida pintando e ninguém dá bola, uma obra inexistente. Na dramaturgia de Inútil a Chuva a personagem central é essa ausência sem limites. Ao espectador cabe a tarefa de conhecê-lo através de relatos alheios.
Já a família merece um capítulo à parte. Mesmo com a aparente sincronia com que tentam seguir com o barco, cada um parece nascido num planeta diferente. Slavoj (Leonardo Hinckel), o filho mais velho, percorre o labirinto de ser ele mesmo atormentado pela figura paterna. Claude (Tomás Braune), o filho do meio, transborda fúria. Já Sarah (Andressa Lameu), a caçula, vive em busca de si mesma. E Lotta (interpretada por Patrícia Selonk) é a figura pouco materna que – com um humor revelador – compreende a razão de quase tudo com alguma parcimônia em relação ao destino, eternamente ingrato.
Para completar o desenho, aparecem outras duas figuras. Vivian (Lisa Eiras Fávero), uma jornalista – ex-correspondente de guerra – que recebe a incumbência de fazer uma reportagem sobre o pintor e seu misterioso desaparecimento. E Matthias (interpretado por Marcos Martins), um professor de matemática e melhor ex-amigo do sujeito desaparecido. Amante do boxe, é aquele tipo de cara capaz de falar sobre as probabilidades numéricas das unhas da mão direita quebrarem antes das da mão esquerda. Sua capacidade de viajar por números imaginários faz de seu ponto de vista um mundo peculiar.
Tudo em Inútil a Chuva acontece a partir de encontros. Pessoas indo e vindo, se cruzando e se trombando, revirando a sujeira, produzindo aromas, criando sentidos, entendimentos das dores, erros e acertos. E claro, os eternos “não sei o que fazer com isso agora que estou diante de um monstro que solicita alimento ou pescoço degolado”. Mais o céu que desaba feito chuva, seja com tensão ou humor, mostrando as várias faces de um mesmo naufrágio que nunca ocorreu por completo. Um céu esfregando o gosto da água e a falta de ar num dia de dúvidas e certezas, tintas e pincéis, seja ódio sobre tela ou graça sobre tela.
“Inútil a chuva”
Montagem do Armazém Companhia de Teatro
Local: Centro Cultural Banco do Brasil Brasília
Endereço: SCES, Trecho 2, Lote 22, Brasília – DF
Temporada: 27, 28, 29 e 30 de outubro
De quinta a sábado, às 21h, e domingo às 19h
Patrocínio : Petrobras
Apoio: Banco do Brasil
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)
Clientes BB tem 50% de desconto em até 2 ingressos
Clientes Cartão Petrobras e Força de Trabalho Petrobras tem desconto de 50% em até 2 ingressos
Duração: 110 minutos
Recomendação/Classificação: 12 anos
Gênero: Drama
Venda Ingressos: Bilheteria do CCBB e pelo site https://web.upingressos.com.br/
Horário da bilheteria do CCBB: de quarta a segunda, das 13h às 21h
Informações CCBB: Tel: (61) 3108-7600
Capacidade do teatro: 327 lugares
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