Deixando aos cuidados da Redação de nosso hebdomadário o texto noticioso do casamento do Príncipe Harry com a atriz norte-americana Meghan Markle – que, não obstante a epiderme branca e beleza física inerente a uma artista de Hollywood, além de plebéia, acumula descendência africana, alguns dos quais presentes, dividindo o cerimonial com britânicos arianos de olhos azuis –, atenho-me ao lado sentimental. Este sensacional evento me fez lembrar o preconceito racial made in Brazil – sem razão de ser, porque mais de 50% da população brasileira sejam de mestiços (no meu caso, tenho na mistura até sangue chinês, aliás, com muita honra) –, vale a pena lembrar os versos do samba A Banca do Distinto, do compositor Billy Blanco:
\”Não fala com pobre, não dá mão a preto / Não carrega embrulho / Pra que tanta pose, doutor? / Pra que esse orgulho? / A bruxa que é cega esbarra na gente / E a vida estanca. / O infarto lhe pega, doutor / E acaba essa banca. / A vaidade é assim, põe o bobo no alto / E retira a escada, / Mas fica por perto, esperando, sentada / Mais cedo ou mais tarde, ele acaba no chão. / Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco, afinal / Todo mundo é igual: quando a vida termina / Com terra por cima e na horizontal!
Em contrapartida, a tradicional canção que se ouviu no casamento do Príncipe e da plebléia negra, \”Stand by Me\”, com Elton John(*) no grupo coral, eis a tradução das duas primeiras estrofes:
“Quando a noite tiver chegado / E a Terra estiver escura / E a lua for a única luz que veremos. / Não, eu não terei medo. Não, eu não terei medo. / Desde que você fique aqui comigo! / Se o céu que vemos lá em cima / Desabar e cair / Ou as montanhas desmoronarem no mar / Eu não chorarei. / Não, eu não derramarei uma lágrima, / Desde que você fique aqui comigo!\”
Embora o verso \”Não, eu não derramarei uma lágrima\” seja repetitivo, a emoção tomou conta das milhares de pessoas presentes, em Londres, e que não conseguiram conter a abundância das lágrimas, entoando em surdina a letra da música criada em 1960 e que já foi apresentada em todo o mundo por cantores famosos, além de Elton John, a exemplo até de uma versão cinematográfica, estrelada por Michael Jackson.
(*) Elton John, que é Gay, mas nasceu num país em que não há preconceito racial e os homossexuais são respeitados, compareceu em companhia de seu marido David Furnish.