Paulo Miranda (*)
O presidente Lula acaba de anunciar que vai lançar o PodCast Lula. Li a notícia e fiquei a me perguntar por quais infovias virtuais de comunicação andará o tal podcast? As estradas virtuais estão totalmente dominadas e bloqueadas pela direita do mundo, pelas big techs, pelo controle dos algoritmos pelo Facebook, Instagram, Twitter e Google e pelo controle das outras estruturas pelos proprietários da Claro, Tim e Vivo.
Em janeiro, por exemplo, fui impedido de postar por 15 horas. O Padre Júlio Lancellotti também. E mais: o Facebook me avisou que minhas publicações foram “movidas para posições mais baixas no feed por 30 dias”. A minha punição e a do padre foram em virtude das nossas publicações de fotos de indígenas Yanomami famintos, esqueléticos. Se fossem mensagens negacionistas, golpistas e nazifascistas obteriam outro tratamento de sala vip, tapete vermelho.
Minha experiência de enfrentamento com as redes sociais não para por aqui. Em 25 anos de TV Comunitária de Brasília (canal 12 na NET), o Youtube, o Facebook, o Instagram e o Twitter sempre foram severos, com tratamento diferenciado diante dos produtos e posts do gabinete do ódio e de seus seguidores.
Na pandemia, a TV Comunitária conseguiu furar o bloqueio e atingir de 3 a 6 milhões de visualizações por mês somente no seu Facebook. Atualmente, furar este bloqueio está difícil. A visibilidade hoje fica bloqueada entre 300 e 400 mil. O algoritmo cerceia a visibilidade da produção audiovisual e dos posts do canal nas infovias do Facebook e demais redes sociais.
O ex-senador Roberto Requião (PR), em recente entrevista à TV Comunitária, reclamou que está a sofrer a mesma restrição. As postagens dele atualmente atingem baixo número de visualizações, enquanto no passado recente eram de milhões.
Ousadia x oligopólios
Nada contra o podcast do presidente da República. Mas, do governo Lula 3 esperava uma política de comunicação mais ousada. Mais do mesmo não vai modificar o panorama dos oligopólios da comunicação que dominam nossas estruturas de satélites, fibra ótica, telecomunicações e as ondas digitais abertas, subutilizadas.
Até o momento, a Telebras é uma empresa que só existe no papel. A EBC (Empresa Brasil de Comunicação) sempre teve um papel de Titanic à deriva, entre suas quatro paredes. E temos uma rede de rádios e tevês comunitárias, universitárias, legislativas, públicas, educativas e culturais completamente abandonada, sucateada, ociosa e discriminada.
A política de desenvolvimento e fortalecimento da comunicação pública no País continua a ser um sonho documentado em Cartas ao Presidente redigidas pela Abraço (Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária), Abccom (Associação Brasileira de Canais Comunitários), Astral Brasil (Associação Brasileira de Televisões e Rádios Legislativas), ABTU (Associação Brasileira de TVs Universitárias) e pelo que restou da gloriosa ABEPEC (Associação Brasileira de Emissoras Públicas, Educativas e Culturais).
Aqui em Brasília, a rede de comunicação pública é composta pela Rádio Cultura, 33 rádios comunitárias, a UnB TV, a TV Distrital e a TV Comunitária, que, em comum, carregam em si o germe do sufoco financeiro e de um parque midiático ultrapassado, sucateado. A falta de recursos é visível até para pagar as contas básicas (salários, aluguel, impostos, internet, contador, manutenção de equipamentos, água e luz), sem sobra de caixa para bancar a produção audiovisual e equipe de reportagens.
Contra o avanço do terceiro setor
Os governos, ao enfraquecer e desmantelar a comunicação pública, deixam a sociedade em poder da liberdade expressão de empresa e impede o avanço da informação produzida pelo terceiro setor e dos movimentos social, sindical, estudantil, feminista, do povo negro e dos povos indígenas.
E não é por falta de dinheiro na comunicação no País. O Brasil investe bilhões de reais todo mês em comunicação midiática. Grande parte sai dos cofres públicos do governo federal e dos governos estaduais e vai diretamente para as contas da mídia golpista, para o monopólio da informação, que derrubou Dilma, prendeu Lula e levou um genocida à presidência da República.
Este esquema antinacional e antipatriótico permanece recebendo muita grana e com suas garras afiadas contra o Brasil. Portanto, só nos resta indagar: o que será das urnas em 2024 e em 2026 se nada mudar na comunicação brasileira?
(*) Jornalista e presidente da TV Comunitária de Brasília